Mato Grosso lidera o ranking de estradas ilegais em terras públicas. A conclusão é de um mapeamento inédito realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) com auxílio de inteligência artificial, que identificou 3,46 milhões de km de vias na Amazônia Legal.]
Relacionadas com o avanço do desmatamento, as estradas já cortam ou estão a menos de 10 km de 41% da área florestal amazônica no Brasil.
A pesquisa também mostra em quais tipos de territórios estão as estradas mapeadas. Embora a maior parte fique em propriedades privadas e assentamentos (67%), um terço está sobre terras públicas (33%). E, entre as diferentes categorias de áreas públicas, as que têm o maior comprimento de estradas são as chamadas de “não destinadas”: 854 mil km. Elas concentram um quarto das vias mapeadas em toda a Amazônia (25%), o que provavelmente indica que estão sendo pressionadas por crimes ambientais como extração ilegal de madeira, garimpo e grilagem.
Já nas áreas protegidas foram encontrados 280 mil km de estradas, 8% do total na Amazônia, sendo principalmente em unidades de conservação, 184 mil km (5%), e em terras indígenas, 91 mil km (3%). Números que os autores da pesquisa afirmam representar uma alta pressão de vias e, consequentemente, do desmatamento nesses territórios.
Arco do desmatamento
Realizada a partir de imagens de satélite de 2020, a pesquisa mostra que a maior densidade de estradas está no chamado “arco do desmatamento”. A região abrange os territórios de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, além da parte do Pará que faz divisa com esses últimos três estados. No entanto, em relação a um estudo anterior do Imazon que mapeou estradas de forma manual, em 2016, os pesquisadores identificaram que há mais vias atualmente nas regiões chamadas de “novas fronteiras do desmatamento”. São o Sul do Amazonas, o Oeste do Pará e a Terra do Meio, também em solo paraense.
Na comparação por Estado (quadro acima), a pesquisa mostrou que o Mato Grosso, com 1.296.946 km, possui disparado a maior quilometragem de estradas, seguido pelo Pará, com 715.730 km. Tocantins e o Maranhão, porém, foram os que apresentaram a maior densidade de vias.
“Por isso, mapear e monitorar as estradas é crucial para identificar ameaças à floresta e aos povos e comunidades tradicionais que vivem nela, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Em estudos anteriores, já havíamos indicado que 95% do desmatamento na Amazônia se concentrava em até 5,5 km das estradas. E que 85% das queimadas ocorriam em até 5 km delas”, explica o coordenador da pesquisa, Carlos Souza Jr.
Publicado recentemente na revista científica internacional Remote Sensing, este foi o primeiro estudo que mapeou estradas com auxílio de inteligência artificial na Amazônia, o que foi feito a partir de um algoritmo criado pelo Imazon.
Fonte: Imazon