Ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central se uniram para transmitir a mensagem de que uma das maneiras de frear a destruição ambiental é fazer com que o criminoso impune sinta no bolso pelo que tem feito contra um setor bilionário que gera riqueza para o País. Isso dependeria do sistema financeiro como um todo, que hoje oferece empréstimos e financiamentos à turma seleta da destruição.
Batizado de Convergência para o Brasil, o movimento lançou um manifesto intitulado “A importância da sustentabilidade para a economia do Brasil”, com caminhos a serem seguidos para que o país volte a crescer de forma mais robusta e aproveitando sua vocação sustentável.
Sentir no bolso
Na coletiva de imprensa realizada pelo grupo, o ex-ministro da Fazenda Armínio Fraga afirmou que o combate às mudanças climáticas deveria ser uma preocupação de todos porque é um tema que pode trazer resultados econômicos extraordinários para nós.
“Quem é que perde? É justo fazer essa pergunta. Perde quem está desmatando de maneira ilegal, quem está fazendo mineração e enchendo os nossos rios de mercúrio. Essa turma perde, mas sinceramente, é para perder mesmo. O resto só ganha”, disse Fraga.
Para o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero, é preciso que o agronegócio que utiliza boas práticas em suas empresas e fazendas se posicione em favor da defesa da sustentabilidade.
“Tenho verificado que estes grupos nunca utilizam o imenso poder político que têm para fazer o que seria necessário, que é pressão em cima da Câmara e do Senado para impedir pautas danosa ao meio ambiente”, afirma.
Ricupero reforça que a Amazônia é estratégica para o Brasil se posicionar perante o mundo.
“Esse vai ser o problema central da política externa do país no futuro. O Brasil é um país continental, mas não é uma potência nuclear ou militar. A única área que ele tem condições de ser relevante na política externa mundial é na questão associada do meio ambiente e dos alimentos. Nisso temos um potencial muito grande de influência e para retomar uma posição mais ativa”, afirma o diplomata.
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson Nóbrega, uma posição mais ativa do Brasil frente às mudanças climáticas trará benefícios econômicos a curto, médio e longo prazo.
“São imensas as oportunidades. Em 2020, um estudo mostrou que há um potencial de aumento de 2,8 trilhões de dólares nos próximos anos. Gerando de 2 a 3 milhões de empregos. O Brasil tem um potencial imenso”, comentou.
Ele reforçou a importância de se debater e apoiar ideias sobre instrumentos ficais para criar incentivos para empresas, estados e municípios se engajarem em projetos, visando a transição brasileira ao carbono zero.
Fechar a torneira
Nóbrega afirmou ainda que é preciso penalizar criminosos e condicionar crédito e investimento ao bom desempenho ambiental.
Sobre isso, o também ex-ministro da Fazenda Paulo Haddad lembrou a crueldade que é ver máquinas que servem ao desmatamento e ao garimpo financiadas com crédito subsidiado do Banco do Brasil.
“Então nós temos que co-responsabilizar o sistema financeiro para além do discurso”, disse.
Paulo Haddad destacou o potencial da floresta em pé para gerar riqueza e como a Zona Franca de Manaus pode virar um centro de especializado em bioeconomia, com pesquisas que unam os estudos do povo da floresta e tecnologia.
Ele também criticou a atuação do governo federal na política ambiental.
“O atual governo enxerga a Amazônia, o Pantanal, o meio ambiente territorial como se fosse um mega almoxarifado do, um meio de acesso a recursos naturais renovais e não renováveis de acesso livre para acumulação de capital do interesse privado. Ai nós caímos na tragédia dos bens comuns. O indivíduo tenta explorar ao máximo esses recursos e prejudica o interesse coletivo. Então, estamos matando rios, quebrando florestas, quando na verdade o valor econômico do meio ambiente é muito mais amplo do que o valor de uma árvore cortada para ser vendida. Eu chamo isso de autofagia econômica, um processo de produção que você mais destrói o valor econômico do que ganha. O governo atual é complacente, para não dizer que estimula o processo predatório do ecossistema do país”.