Para ser sustentável, a agropecuária brasileira precisa de projetos bem estruturados e linhas de financiamento de longo prazo, voltados às especificidades da produção de baixa emissão de carbono do setor, como plantio de florestas nativas, sistemas agroflorestais e integração lavoura-pecuária-floresta.
Veja abaixo como o momento foi avaliado por especialidades na área, durante o 1º Fórum Futuro do Agro, que ocorreu na quinta-feira, 20/10.
“Nós, como instituição financeira, precisamos evoluir no entendimento de novos projetos. Estamos muito acostumados a financiar projetos grandes de monocultura e quando você traz um sistema agroflorestal onde, na mesma área, tem vários ciclos de receitas diferentes de longo prazo, não cabe na planilha de uma instituição financeira e cabe a nós compreender e trabalhar e muitas das vezes em uma escala que faça uma composição de instrumentos para diferentes riscos distintos e o BNDES a função é desbravar essas novas fronteiras”, diz Bruno Aranha, diretor de crédito produtivo e socioambiental do BNDES.
“Temos 20% das emissões [de gases de efeito estufa] do mundo, mas não recebemos 5% do dinheiro do mundo. Em pecuária, eu preciso de um prazo de oito anos, três de carência e cinco para pagar. Esse é um desafio grande que a gente tem. Em floresta, a gente sabe que isso é um investimento que o mais rápido tem sete anos para colher e começar a ter retorno, mas floresta nativa que é um negócio novo talvez demore trinta anos”, observa Eduardo Bastos, CEO da MyCarbon, subsidiária da Minerva Foods voltada à comercialização de créditos de carbono.
“Para a agricultura de baixo carbono ocorrer em escala, toda uma estrutura de mercado de carbono precisa ser estabelecida”, diz Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora. “Precisamos ter mais clareza de como o carbono no agro tem que se viabilizar no Brasil”
“(A agropecuária de baixo carbono) É um produto de prateleira. Como tem que ter um projeto feito por um técnico, é difícil, o gerente acaba não oferecendo”, diz Fabiana Vila, diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura.
“O Brasil hoje não tem disponível instrumentos de crédito adaptáveis e que se encaixem às necessidades que o agro demanda, então quem precisa não acessa o recurso e não vai fazer [a mudança]”, avalia Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig.
“Se não houver parceria dos governos, a demora inviabiliza a disposição do produtor de ir procurar [a regularização e o crédito]”, diz Liege Vergili, diretora de sustentabilidade da Friboi, da JBS.