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COP27: Produtor que conserva mata e cumpre Código Florestal deve ser valorizado

COP27: Produtor que conserva mata e cumpre Código Florestal deve ser valorizadoMonitorar toda a cadeia da pecuária é desafio grande, mas possível.Foto: Adriano Gambarini/WWF

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Para atingir ou mesmo ultrapassar as metas do Acordo de Paris de redução de emissões de gases de efeito estufa, o Brasil precisa encontrar soluções para as atividades responsáveis por suas maiores pegadas de carbono: desmatamento, uso da terra e agricultura. A boa noticia é que é possível o País chegar à descarbonização até 2030, como manda o acordo. Mas para isso é necessário investimento pesado, tanto do setor público quanto do privado.

Promovido pelo Brazil Climate Hub, o painel “Caminhos para o fim do desmatamento: engajamento entre elos das cadeias agroalimentares” debateu o tema, nesta terça-feira, 15/12, dentro da programação extraoficial da 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito.

A discussão girou em torno de como alguns sistemas agroalimentares importantíssimos para a economia brasileira, como agropecuária, têm investido para eliminar o desmatamento de suas cadeias de fornecimento.

Para Daniel C. Nepstad, presidente e diretor executivo do Earth Innovation, a sustentabilidade só ganhará escala quando a agenda florestal fizer aquele produtor que está cuidando da floresta e obedecendo o Código Florestal ser mais competitivo do que o vizinho que não está. Além das políticas públicas, esse fomento deve vir de outras iniciativas do setor privado, acredita ele.

“A questão é como o setor privado vai ‘desenhar’ esse dinheiro para premiar e fazer produtivo o agricultor que está zelando pela floresta, aumentando sua produtividade verticalmente e não horizontalmente”, disse Nepstad.

Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação corporativa da Marfrig Global Foods, falou sobre como o projeto Produzir, Preservar e Incluir (PCI), idealizado pelo governo do Mato Grosso, foi inspirador para que sua empresa criasse um programa nos mesmo moldes, o Plano Verde+.

O primeiro passo, de acordo com o diretor, foi contextualizar a pecuária no Brasil para entender o tamanho do desafio que teriam pela frente. Dados específicos sobre a atividade – onde ela se dá, onde se concentra, como se desenvolve, qual o perfil do produtor, suas dificuldades e oportunidades – se juntaram a informações oficiais disponíveis sobres índices de desmatamento, vulnerabilidade social, indicadores sociais, índices de pastagens, risco climáticos etc.

“Com a combinação de todas essas informações, a gente conseguiu ter um mapa, em nível de municípios, que mostra qual a região que tem índice de vulnerabilidade maior e, na outra mão, o risco maior em função da presença de mata nativa e para onde caminha essa produção pecuária”, disse.

Perfil do pecuarista

Pianez chamou atenção para o perfil do produtor de pecuária no Brasil. Segundo ele, o Brasil tem pouco mais de 5 milhões de propriedades rurais. Metade, ou cerca de 2,5 milhões de fazendas, produz gado de corte. Dessas, 75% dedica-se à cria e a maioria é de pequena propriedades.

“Muitos deles não têm conhecimento de tecnologia, não têm acesso a assistência técnica e a financiamento  necessários para uma produção mais sustentável, como manejo adequado de pasto, melhoria genética, nutrição animal melhor…”

Produtores indiretos

Outra dificuldade apontada pelo diretor da Marfrig é o mercado spot da pecuária. “O frigorífico, como é o caso da Marfirg, quando vai fazer a compra ali na ponta do fornecimento direto, é quase um leilão reverso”, diz ele, ou seja, o produtor tem várias opções para vender seu gado, inclusive um comprador sem nenhum exigência sustentável.

Colocadas todas essas questões, depois de entender e diagnosticar o setor, a Marfrig resolveu direcionar esforços para chegar até esse produtor e o convencer da importância de se engajar numa agropecuária mais sustentável por meio do uso da tecnologia. Mas como chegar até os produtores indiretos, uma vez que, de acordo com Pianez, o Brasil não tem um sistema robusto de informação sobre a atividade?

“A solução foi engajar fortemente o produtor direto para que ele passasse quem eram os indiretos deles. Até agora, a gente conseguiu a identificação de cerca 70% deles. E a gente tem identificado de 50 a 60% de problemas”.

De acordo com Pianez, com tecnologia, assistência técnica e engajamento dos produtores, a empresa tem conseguido com “um sistema robusto para os padrões brasileiros” para controlar melhor a cadeia e fazer com o Código Florestal seja cumprido.

“Mais do que isso, como a gente trabalha com adicionalidade, aquele que, além da Reserva Legal que ele já tem,  mantiver a floresta em pé, pode ser valorizado por isso. E aí as tecnologias estão disponíveis e agente faz a implementação.”

Vista grossa de bancos?

Para o diretor da Marfrig, com modelos como as iniciativas governamentais, como o PCI do Mato Grosso, e privados, como o Plano Verde+ da Marfrig, o Brasil tem condições de fazer endereçamento adequado de combate ao desmatamento. Resta apenas o engajamento do setor financeiro.

“Os instrumentos de financiamento desenhados hoje não são adequados. Raramente a gente vê os bancos sentados para entender o que estão fazendo pra fazer parte do direcionamento das soluções que a gente precisa”, critica.

Puninda Thind, da Climate Champions, também defendeu um maior envolvimento do setor financeiro no combate ao desmatamento. Para ela, o investimento em soluções baseadas na natureza pode evitar perdas significativas no PIB mundial até o fim da década, conforme avançam as mudanças climáticas.

“Os fóruns econômicos têm relatórios que mostram que a perda de biodiversidade e a degradação são grandes riscos para os próximos dez anos. Espero que as instituições financeiras levem isso em consideração em suas decisões. A maior parte do PIB do planeta baseia-se no valor da natureza. Por isso é fundamental haver investimentos.”

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