Pesquisadores brasileiros na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP27) avaliaram o potencial da bioeconomia para a Amazônia no painel “Da ciência à ação: Bioeconomia como alternativa para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, realizado no espaço do Brazil Climate Action Hub na conferência do clima nesta terça-feira, 15/11
“A bioeconomia para a Amazônia precisa ser transformadora”, disse Patrícia Pinho, diretora-adjunta de pesquisa no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Pinho é coautora de um estudo que elenca princípios orientadores para uma bioeconomia da Amazônia, em consideração às complexidades territoriais, culturas e aos conhecimentos ancestrais da região. São eles: desmatamento zero; diversificação dos métodos de produção em resposta ao sistema de monocultura; fortalecimento de práticas milenares amazônidas; e repartição justa dos benefícios.
A abordagem proposta para o conceito de bioeconomia aplicado às realidades da Amazônia brasileira é a conservação ambiental em harmonia com o desenvolvimento do potencial econômico da sociobiodiversidade da floresta, produzindo renda para quem nela vive, sem reproduzir lógicas excludentes de marginalização e de empobrecimento da população na concepção, implementação e execução de projetos. O foco está no protagonismo da pluralidade de vozes amazônidas.
“Se a gente não tiver todos esses pilares, não seremos capazes de evitar o ponto de não retorno na Amazônia. Devemos transcender a visão sobre a Amazônia como provedora global da estabilidade climática e de commodities. Há um potencial enorme para ser desenvolvido. Só o estado do Pará pode produzir mais de 5 bilhões de dólares em recursos financeiros associados à bioeconomia. É necessário endereçar as múltiplas desigualdades como a gente tem, de alta pobreza, desigualdade étnica, racial, de gênero, mantendo, assim, a floresta de pé e assegurando os direitos da população”, explicou Pinho.
Tecnologia como aliada
O cientista Carlos Nobre apresentou a proposta de construir “um MIT para a Amazônia” de forma a alavancar o desenvolvimento da região por meio da tecnologia. O MIT (Massachusetts Institute of Technology, ou Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos), é referência mundial como centro de pesquisas.
A ideia é que o Instituto de Tecnologia da Amazônia tenha caráter panamazônico, em diálogo com os demais países pelos quais o bioma se estende, como Bolívia, Colômbia e Equador. Com cinco grandes áreas de pesquisa – água, sociobiodiversidade e florestas, infraestrutura sustentável, paisagens degradadas e Amazônia urbana – o objetivo é que populações indígenas e comunidades tradicionais se beneficiem da iniciativa.
“Já conversamos com vários países. É um sonho, mas vamos realizar. Vamos torcer para um apoio enorme de todos os governos da Amazônia que queiram participar. É uma proposta descentralizada, a ser criada via parceria público-privada”, disse o pesquisador, que é fundador do Amazônia 4.0, projeto que prevê a utilização de tecnologia para o desenvolvimento na região amazônica com fortalecimento de populações tradicionais.
Nobre relatou que já está em curso a abertura de laboratórios criativos na Amazônia, que funcionam como “pequenas biofábricas” para populações rurais e urbanas trabalharem com os produtos da floresta como o cupuaçu e o cacau.
“O desafio do Amazônia 4.0 é trazer para a Amazônia o potencial de agregar valor para produtos da bioeconomia da floresta em pé e agregar valor por meio da industrialização. Com a promessa do governo Lula reindustrializar o país, que vem se desindustrializando há 25 anos, vamos lançar grandes projetos dessa natureza para levar a possibilidade de transformar a Amazônia”, anunciou.
Como sintetizou Houlihan, investir na bioeconomia da Amazônia é “investir no futuro do nosso planeta”.
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