Por André Garcia
Exigências comerciais podem ter o mesmo impacto que acordos internacionais no controle do aquecimento global. Exemplo disso é a exportação de carne bovina de Mato Grosso para a China, citada durante a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito, nesta terça-feira (15).
Até 2019, quando o Estado ainda não havia consolidado uma parceria forte com o país asiático, apenas 19% do gado era abatido com até 24 meses. A partir de uma exigência dos compradores, de que os animais fossem abatidos antes dos 30 meses, a porcentagem subiu para 37% em 2021.
Do ponto de vista ambiental, isso significa, dentre outras coisas, mitigação das emissões de metano, um dos principais entre os gases do efeito estufa (GEE).
A questão foi abordada pelo presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Caio Penido, no painel “Perspectivas para colaboração sino-amazônica – sustentabilidade na cadeia global de suprimentos”, do Consórcio Amazônia Legal.
“É um exemplo de uma fórmula que dá certo e que tem tudo para crescer. Precisamos produzir mais para atender a demanda por alimentos no mundo, intensificando áreas, melhorando o balanço de carbono e reduzindo idade de abate, tudo isso, seguindo a legislação brasileira” disse.
Desta premissa é que parte o diálogo do setor mato-grossense com a União Europeia, com quem o Estado busca ampliar parcerias. Embora o bloco não seja um comprador tão relevante quanto os chineses, é um grande formador de opinião mundial, o que faz com que suas condutas tenham impacto sobre toda a balança comercial da carne.
“Usamos esse exemplo com a Europa. Tanto o Brasil quanto a China precisam de cooperação. São responsáveis por grande parte da produção de alimentos no mundo e talvez sejam os países mais relevantes na batalha pela sobrevivência da humanidade”, afirmou Caio.
Maior parceira comercial do Brasil, a China responde por 43% da carne e 70% da soja exportados por nós. Em Mato Grosso, o país asiático lidera o ranking das embarcações. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), só em 2022 já foram exportadas 2,26 milhões de toneladas de soja e 9,5 mil toneladas de carne.
Se depender só do discurso do governador do Estado, Mauro Mendes, a parceria certamente crescerá.
“Queremos ampliar nossas relações e mostrar como aplicar corretamente a legislação, mostrando ao mundo dois pilares fundamentais: o comprometimento ambiental e a segurança alimentar.”
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