Por André Garcia
A menos de sete anos para cumprir com a meta de redução de 80% nas emissões de carbono, Mato Grosso cobra por investimentos estrangeiros no setor ambiental, acordados durante a última Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris, em 2015. Nesta edição, no Egito, o potencial de arrecadação estimado para Mato Grosso foi de R$ 20 bilhões até 2030.
A cifra foi citada pelo representante da Global Eco Rescue/Pro, Daniel Nepstad (Earth Innovation Institute), parceiro do governo estadual no programa Carbono Neutro MT, lançado em 2021. Ele participou do painel de apresentação do projeto, realizado pelo Consórcio Amazônia Legal, na quarta-feira, 16/11, em Sharm El-Sheikh, Egito.
Ao seu lado, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, cobrou dos países ricos por não estarem cumprindo com suas promessas e pontuou que o não cumprimento dos acordos por todas as partes coloca em risco a credibilidade das conferências mundiais sobre o clima.
“Em 2015, foram estabelecidas metas sobre estes recursos e que países ricos teriam que aportar anualmente mais de R$ 100 bilhões. Essa cifra não aconteceu na dimensão que foi pactuada. Outro compromisso importante, que seriam as mudanças no padrão de consumo e produção contribuir com reduções não foram cumpridas”, disse.
O planejamento estabelecido para o programa Carbono Neutro prevê a aceleração de ações para sequestro de carbono. Ambiciosa, a meta é reduzir as emissões em 80% até 2030 e neutralizá-las em 2035. Na maioria dos países, o prazo firmado termina 15 anos depois disso, em 2050.
“No Brasil não temos a cultura de planejamento de longo prazo. Então, para nós, isso pareceria jogar para o futuro o que não queríamos fazer agora, e, como isso não é o que permeia as ações de quem está à frente do tema em Mato Grosso, estabelecemos este objetivo e temos ações concretas já acontecendo”, afirmou Mendes.
Atualização de cifras
Para Nepstad, a proposta é possível de ser realizada desde que sejam pactuadas parcerias e que sejam garantidos o desenvolvimento e a inovação na economia rural. “Existe uma grande questão sobre como financiar essa transição. A boa notícia é que finalmente o mercado chegou a esse ponto.”
Neste contexto, uma porcentagem dita por ele chama a atenção. Em 2012, o Estado alcançou redução de 80% nas emissões de carbono, o que corresponde a um bilhão de toneladas a menos de CO2 na atmosfera. Deste total, apenas 1% do valor reduzido tem recebido compensação.
Os repasses são feitos por meio do Programa REM-MT, que conta com recursos da Alemanha e do Reino Unido investidos em três anos em programas de manejo florestal.
“Com isso, há possibilidade de se pensar em outra escala de financiamento. O REM foi fundamental, muitas comunidades receberam o dinheiro, mas ainda é pouco. Olhando para frente, a possibilidade de saldo é de R$ 20 bilhões até 2030, de acordo com a receita potencial do mercado atual”, explicou.
Mudança de conceito
Para Nepstad, o conceito de pagar para quem não desmata é equivocado.
“Isso não é certo. Esses recursos têm que ser vistos como dinheiro para incubar novas economias, as novas tecnologias, a bioeconomia, o ganho de eficiência na produção agropecuária. É preciso atrair dinheiro de fora com mecanismos para reduzir riscos”, afirmou
Ao apresentar o programa, o governo mato-grossense destacou entre as medidas para descarbonização a manutenção do ativo florestal, regularização fundiária, reflorestamentos comerciais, manejo sustentável para agropecuária e integração lavoura-pecuária-floresta.
“Organizamos um conjunto de metodologias, acordos e comportamentos. Contamos com a ajuda do setor produtivo, que, em sua maioria, compreende a importância do desafio e está conosco para construir esses acordos e metas”, assegurou Mauro.
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