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Captura de CO2 pode resolver problema causado por ‘arroto’ do gado

Captura de CO2 pode resolver problema causado por ‘arroto’ do gadoRecuperação de pastagens é um dos métodos para capturar CO2. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Embora apresente emissões globais muito inferiores às do carbono (CO2), o metano (CH4) tem potencial de aquecimento 28 vezes maior, o que causa prejuízos até 80 vezes piores para o planeta considerando um prazo de 20 anos.  Mas o que agropecuária tem a ver com isso? Bom, grande parte do metano produzida no mundo vem do “arroto” de animais ruminantes, como bois e vacas.

Considerando a crescente nas exigências do mercado mundial por sustentabilidade, a fim de evitar o aumento da temperatura global, é importante que os pecuaristas de Mato Grosso, dono do maior rebanho do Brasil, estejam atentos. Para eles, a boa notícia é que estas emissões podem ser neutralizadas por meio da captura do CO2.

O segredo: recuperação de pastagens

processo ocorre por meio da fotossíntese das plantas e do consequente acúmulo de carbono no solo, que pode ser ampliado por meio de uma técnica simples: a recuperação de paisagens degradadas. Foi o que explicou ao Gigante 163 o professor de Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Campus Sinop, André Oliveira.

“Quando as pastagens são bem manejadas e produtivas, é possível neutralizar o carbono emitido pelos animais ou obter balanço de carbono positivo no sistema de produção. Ou seja, sequestrar mais carbono do que emitir”, explicou.

Para ele, as pastagens representam um dos maiores ativos ambientais da pecuária brasileira, se adequadamente manejadas.

“Ao contrário de vários concorrentes internacionais, a pecuária brasileira é baseada em pastagens de gramíneas tropicais perenes, que têm grande capacidade fotossintética, e, portanto, de armazenamento de carbono no solo.”.

Do lado oposto ao manejo inteligente, as pastagens degradadas têm capacidade fotossintética muito baixa.

“Consequentemente, a produtividade animal e a capacidade de armazenamento de carbono no solo são reduzidas, o que torna o balanço de carbono desfavorável, com emissões maiores que o sequestro do gás.”

Desafio é investimento

O consultor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amado de Oliveira Filho, endossa a prática, mas adianta que a demanda por emissões mais baixas ainda esbarra em alguns desafios em Mato Grosso, especialmente considerando que a maioria dos pecuaristas são pequenos e médios produtores. Para se ter ideia, o número de proprietários com mais de 70 animais é de 74%.

Neste cenário, em sua opinião, não é possível fazer esta mudança sem que haja investimentos.

“De 2005 a 2022, tivemos aumento de 449% no valor da arroba. O frigorífico tem 472% e o comerciante 605%, uma curva muito acima da do pecuarista. Primeiro é preciso gerar renda para haver harmonia nos preços e consequentemente redução no valor no mercado.”

Também é nisso que o Governo do Estado tem insistido, especialmente quando o assunto é a obtenção de recursos europeus. De qualquer forma, é preciso considerar uma série de medidas que não dependem de investimento estrangeiro e que podem aumentar a sustentabilidade e a rentabilidade.

Amado reforça que alguns passos nesta direção vêm sendo dados pela Acrimat, por meio do projeto Fazenda Pantaneira Sustentável. Exemplo disso é o aumento de 20% no peso dos bezerros desmamados na Fazenda Esperança, localizada em Santo Antônio do Leverger (34 km de Cuiabá). A propriedade se tornou referência em tecnologia e manejo sustentável de pasto, como já contado pelo Gigante 163.

O cenário de emissões

O metano responde por cerca de 18.4% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) no mundo. De acordo com André, deste total, a fermentação no estômago de animais ruminantes domésticos, principalmente bovinos, responde por 27%, ou seja, a produção de metano pelo gado é de 5% de emissões globais de GEE no mundo.

No Brasil, a contribuição relativa por parte dos bovinos está bem acima da média, correspondendo a 20% das emissões totais de GEE. Segundo Amado, isso acontece porque o Brasil é um dos maiores produtores de leite e carne bovina e detém o segundo maior rebanho de bovinos no mundo. Para entender melhor, basta imaginar que o país abriga 20% do gado mundial, contra 4% da população de humanos.

Como já mencionado, o maior problema do CH4 não são as toneladas emitidas, e sim seu potencial de aquecimento. A vantagem, neste caso, é que, comparando com o carbono, ele tem uma meia-vida bem mais curta (menos de 20 anos, contra mais de cem), o que faz com que sua redução freie o aquecimento global mais rápido, permitindo que a humanidade ganhe tempo para viabilizar alternativas.

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