Por André Garcia
A Amazônia mato-grossense perdeu uma área maior que a da cidade de São Paulo em 2022. Na comparação entre 2021 e 2022, o desmatamento aumentou de 1.504 km² para 1.604 km², mantendo o Estado como terceiro maior devastador do bioma no Brasil. O número é inferior apenas aos 3.874 km² e 2.575km² registrados por Pará e Amazonas.
Divulgados nesta quarta-feira, 18/1, os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) e mostram que, entre os nove estados que compõe a Amazônia Legal, os três principais desmatadores somam 76% do dano total: 37% no Amazonas, 24% no Pará e 15% no Mato Grosso.
De acordo com o levantamento, feito a partir ferreamente de monitoramento via satélite do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Colniza (1064 km de Cuiabá) ocupa a sexta colocação entre os 10 municípios que mais desmataram no país, sendo a líder no Estado, com 340 km².
Em um cenário geral, a Amazônia sofreu em 2022 com o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento. Entre janeiro e dezembro, foram devastados 10.573 km², a maior destruição em 15 anos. Isso equivale à derrubada de quase 3 mil campos de futebol por dia de floresta.
Com isso, o desmatamento acumulado nos últimos quatro anos, entre 2019 e 2022, chegou aos 35.193 km². Uma área que supera o tamanho dos estados de Sergipe e Alagoas (21 e 27 mil km²). Além de representar um aumento de quase 150% em relação ao quadriênio anterior, entre 2015 e 2018, quando foram devastados 14.424 km².
Piora no cenário
Em 2022, Amazonas e Mato Grosso foram os únicos estados que tiveram aumento na destruição em relação a 2021, tanto em áreas federais quanto em estaduais, sendo os responsáveis pelo fechamento do acumulado da Amazônia em alta.
O caso mais grave foi do Amazonas, onde a devastação cresceu 24% em comparação com o ano anterior, quando foram derrubados 2.071 km². No estado, a derrubada vem avançando principalmente na divisa com o Acre e Rondônia, na região de expansão agropecuária chamada “Amacro”.
“Estamos alertando sobre o crescimento do desmatamento na Amacro pelo menos desde 2019, porém não foram adotadas políticas públicas eficientes de combate à derrubada na região, assim como em toda a Amazônia, resultando nesses altos números de destruição em 2022”, lamenta o coordenador do Programa de Monitoramento, Carlos Souza Jr.
Política de governo
O discurso adotado pelo novo governo, que tem prometido a priorização e defesa do da floresta, traz uma perspectiva mais positiva para quem atua no setor. Segundo a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos, a expectativa é que esse tenha sido o último recorde de desmatamento registrado pelo sistema de monitoramento.
“Mas, para que isso aconteça, é preciso que a gestão busque a máxima efetividade nas medidas de combate à devastação, como algumas já anunciadas de volta da demarcação de terras indígenas, de reestruturação dos órgãos de fiscalização e de incentivo à geração de renda com a floresta em pé”, diz.
Os dados de dezembro de 2022 dão uma dimensão do desafio. No período, o bioma perdeu 287 km², 105% a mais que no mesmo mês de 2021, quando foram devastados 140 km². Foi o mês que teve a maior alta do ano na derrubada. Com isso, 2022 também teve o pior dezembro desde 2008, quando o monitoramento do Imazon começou.
“No último mês do ano, houve uma corrida desenfreada para desmatar enquanto a porteira estava aberta para a boiada, para a especulação fundiária, para os garimpos ilegais e para o desmatamento em terras indígenas e unidades de conservação. Isso mostra o tamanho do desafio do novo governo”, pontua Carlos.
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