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Ameaça ao agro: sudeste amazônico concentra 40% do CO2 que deveria ser liberado até 2100

Ameaça ao agro: sudeste amazônico concentra 40% do CO2 que deveria ser liberado até 2100Dados mostram que compensa investir na conservação. Foto: Secom-MT

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Por André Garcia

Essencial para o ciclo de captura de carbono, que controla os índices de poluição no planeta, a Amazônia está perdendo sua capacidade de “reciclagem” de CO2, podendo, em breve, produzir o elemento em uma escala maior do que a de captura. Segundo estudo publicado na revista Nature Climate Change na última semana, o sudeste amazônico concentra 40% do carbono que deveria ser liberado pelo bioma até 2100.

A pesquisa também aponta as alterações nos padrões de chuva e a intensificação da estação seca, consequências da emergência no clima, como os principais aceleradores desta transformação, que, do ponto de vista econômico, pode significar uma catástrofe para o agronegócio. Atrasos e perdas nas safras, causados pelo excesso de chuva, por exemplo, já são registrados este ano em Mato Grosso.

Assim, ao concluírem que a porcentagem de carbono em parte da Amazônia corresponde a quase metade do total previsto até o fim do século, os pesquisadores apontam que a região está “à beira de precipício climático”. A professora do departamento de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade da Califórnia (EUA), Maria del Rosario Uribe, é a principal autora do artigo e, em nota publicada pela Galileu, explicou a preocupação.

“A perda de carbono nas florestas tropicais do sul e leste da Amazônia, e do importante trabalho que elas realizam em termos de ciclagem do carbono e da água, terá um impacto ainda maior no clima, criando uma espécie de retroalimentação entre essa região e a atmosfera”, diz.

No pior dos cenários, a capacidade desses ecossistemas de armazenar carbono seria reduzida em 20,1%, causando a liberação do gás na atmosfera e agravando o superaquecimento global. Já uma estimativa mais ponderada indica redução de até 12% na capacidade de fixação de carbono. Para isso, contudo, seria preciso que os países mantivessem baixas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2100.

Você sabe o que é ponto de não retorno?

As conclusões reforçam o temor relacionado ao ponto de retorno. Traduzido do inglês “tipping point”, a expressão significa que um determinado limite, quando alcançado, não mais permite o retorno ao estado anterior. Recentemente, o professor Carlos Nobre lembrou que todo o sul da Amazônia, uma extensão de mais de dois milhões de km², entre o Atlântico até a Bolívia, está próximo deste limite.

Durante a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27) o especialista, um dos mais renomados do mundo, anunciou que a estação seca já se tornou até cinco semanas mais longa do que há 40 anos, registrando de 2 a 3 graus a mais no termômetro e com umidade de 20 a 30% mais baixa. O alerta foi noticiado pelo Gigante 163 à época.

“Ultrapassado um limite de degradação, a floresta além de não se recuperar, passará a se auto-degradar. Neste ponto, a floresta começa a perder mais carbono do que remover, não por conta do desmatamento, mas por si mesma”, afirmou Nobre.

Prejuízo à vista?

Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a cada 1°C de aumento na temperatura média global, a perda de fixação de carbono em biomas tropicais equivaleria a uma liberação 10 vezes maior que as emissões anuais do Brasil ou de quase metade das emissões anuais globais. O dado, na visão do pesquisador do IPAM e um dos autores do artigo, Paulo Brando, mostra que compensa investir na conservação do bioma.

Portanto,  a manutenção do floresta em pé e a sua exploração de maneira sustentável podem se tornar uma estratégia brasileira para evitar prejuízo e ao mesmo tempo gerar receitas. Neste sentido se posicionou o cientista Paulo Artaxo em entrevista ao Gigante 163 veiculada em novembro.

“Os países estão correndo para atingir a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa e a neutralidade climática. Mesmo porque, há impacto em muitos setores da economia e a queda na produtividade esperada para agropecuária é muito significativa. Então, precisamos de um sistema coordenado de governança que possa dirigir a construção de uma sociedade mais sustentável, com crescimento econômico “, afirmou.

Em um dos exemplos de viabilidade mostrados por nós, a possibilidade de geração de renda em 10% da área degradada no bioma é de R$ 132 bilhões. Isso, se considerada a proposta de restauração otimizada do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Sequestro de carbono, redução do risco de extinção de espécies e retorno socioeconômico foram os três benefícios considerados para apontar onde a prática seria mais vantajosa.

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