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Conheça a mulher que plantou mais de 4 milhões de árvores

Conheça a mulher que plantou mais de 4 milhões de árvoresArtemizia atua nas regiões do Araguaia e Xingu. Foto: Arquivo pessoal

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Por André Garcia

Com nome e sobrenome de planta, é difícil para a bióloga Artemizia Moita ignorar o conceito de predestinação. Também homônima da deusa grega da proteção e da vida selvagem, ela trabalha há mais de 20 anos pela sobrevivência da floresta por meio da recuperação de áreas arruinadas pela monocultura e agropecuária. Sendo predestinada a isso ou não, já plantou mais de quatro milhões de árvores pelo Brasil. Neste Dia Internacional da Mulher, o Gigante 163 foi atrás de saber um pouco mais sobre ela e seu trabalho.

Floresta na Fazenda Santa Cândida. Foto: Manuela Meyer/Isa

Ela explica que o cálculo considera uma média de 3.800 árvores por hectare, distribuídas em 879 hectares. Centenas deles, inclusive, estão localizados em Mato Grosso, entre municípios como Nova Xavantina, Canarana e diversos outros espalhados pelas regiões do vale do Araguaia e do Xingu.

“Costumo brincar que, mesmo se eu quisesse, não teria como fugir dessa área. Hoje observo resultados positivos e surpreendentes. Temos árvores que alcançam de 10 a 15 metros de altura em florestas já estabilizadas”, conta.

Os números, de acordo com a bióloga nascida no Pará, só são possíveis graças à muvuca, técnica indígena baseada na mistura de sementes de espécies nativas. Aliada às espécies agrícolas utilizadas na adubação verde e aos substratos adequados, a estratégia segue a lógica de sucessão florestal e oferece uma forma mais barata e eficiente de recompor a vegetação.

“Na minha carreira, eu já fiz muito plantio com muda. Mas hoje abandonei completamente e só trabalho com a semeadura direta, com a muvuca. Para plantio em escala, é o melhor custo-benefício. A muda, com um espaçamento de 3/3 e manutenção ao longo de três anos, a taxa de mortalidade é de 30%, o que torna a muvuca muito mais eficiente.”

Restauração florestal manual. Foto: Manuela Meyer/Isa

A diversidade genética propiciada pela técnica garante a cobertura da copa, frutos e sementes atrativas à fauna, formação de biomassa, fixação de nitrogênio, entre outros. Assim, atrelada à recuperação florestal, também se dá a recuperação de nascentes, prejudicadas pelo solo degradado, sem floresta. Logo, o retorno das árvores faz com que, aos poucos, as nascentes voltem a minar água e cumprir sua função ecológica.

“Para você ter uma ideia, trabalhamos com cerca de 120 espécies diferentes entre categorias primárias, secundárias e clímax. As características da muvuca também eliminam uma das principais barreiras da restauração: a gramínea, que só fica atrás do pisoteamento do gado.”

Sementes do Xingu

Gerente do setor de meio ambiente da Agropecuária Fazenda Brasil (AFB), Artemizia conduziu, em 2022, uma ação na Fazenda Santa Cândida, em Barra do Garças. Junto à equipe do Instituto Socioambiental (ISA) ela assegurou o plantio de 2 toneladas de sementes, fornecidas pela Rede de Sementes do Xingu. A associação reúne grupos de coletores de sementes nativas para a restauração do Cerrado e da Amazônia.

Equipe espalha sementes na área a ser reflorestada. Foto: Manuela Meyer/Isa

Para ela, o esforço de um depende do outro. Ou seja, para reflorestar e trazer valor a propriedades até então degradadas, é indispensável o trabalho dos mais de 600 coletores de sementes em todo o Mato Grosso que, ao longo dos 16 anos, já coletaram 325 toneladas de sementes. Assim se evidencia o caráter social da restauração.

“É um projeto com muitas camadas e todas elas são lindas. Para mim, o mais bonito é que ele conseguiu unir três setores que normalmente não conversam: o pequeno produtor, o latifundiário e os povos indígenas. Uma vez, em uma das reuniões, um cacique disse que os brancos tinham muitas iniciativas e poucas terminativas e isso me marcou muito, por isso acredito tanto nesse trabalho.”

Autonomia e mercado de trabalho

Considerando toda a cadeia socioeconômica movimentada pela restauração florestal, Artemizia chama a atenção especialmente para o impacto positivo na vida das mulheres que vivem da floresta.

“Essa relação de parceria garante recursos às coletoras, que são a maioria, propiciando uma verdadeira mudança de vida para elas. Isso é libertador porque leva, além da renda, autonomia para que elas possam tomar suas próprias decisões”, avalia.

Floresta na Fazenda Santa Cândida. Foto: Manuela Meyer/Isa

A partir disso, também avalia o mercado de trabalho para as mulheres de uma forma geral, considerando principalmente o número restrito de mulheres observado em seu setor. Ao lembrar de sua própria trajetória, aponta que, embora o cenário tenha melhorado, ainda há muito o que avançar.

“Na minha entrevista de emprego para a AFB estava com meu filho de seis meses no colo e, no meio do processo, ele começou a chorar e eu pedi licença para dar de mamar, que é uma prioridade. Isso não me prejudicou e eu também tive acesso a outros benefícios, o que é raro para muitas mulheres, que normalmente param de trabalhar nessa fase da maternidade.”

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