HomeEcologia

Acúmulo de CO2 no solo é três vezes maior com ILP

Acúmulo de CO2 no solo é três vezes maior com ILPSistema também aumenta qualidade e produtividade. Foto: Embrapa

COP27: Exigências comercias mudam cenário do agro brasileiro contra crise climática
Redução de emissões de gases do efeito estufa agora tem metodologia
Amazônia terá sistema de dados sobre gases de efeito estufa com livre acesso

Por André Garcia

O acúmulo de carbono no solo a partir da integração lavoura e pecuária (ILP) pode ser até três vezes maior que o registrado pela sucessão de cultura de grãos. No primeiro caso, a quantidade de CO2 varia entre 0,60 e 0,90 tonelada por hectare ao ano, enquanto no segundo, mesmo na comparação com os mais altos desempenhos no ciclo soja – milho, o número não passa de 0,21.

Os dados são de uma pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão (GO) publicada nesta quarta-feira, 5/3, e consideram o solo de Cerrado em Goiás. A projeção do acúmulo de carbono foi estipulada para o perfil de solo até a profundidade de 30 centímetros e o resultado aponta ainda incremento de carbono retido ao longo de 20 anos, projetados para o período entre 2019 e 2039.

A pesquisadora da Embrapa Beata Madari é uma das responsáveis pelo trabalho e conta que a conclusão vai ao encontro de outros estudos da área e pode ser explicada pela presença da forrageira braquiária no caso da ILP. Isso porque ela apresenta forte enraizamento em profundidade, o que, além de reciclar nutrientes, ajuda a aumentar o estoque de carbono no sistema pelo aporte de biomassa radicular e aérea.

Segundo ela, ainda assim a taxa de acúmulo de 0,9 tonelada por hectare ao ano surpreendeu os pesquisadores, especialmente levando em consideração o diagnóstico inicial da propriedade: solo argiloso (mais de 50% de argila) e com teor de carbono classificado entre baixo e médio, com aproximadamente 2%.

Para Madari, como os resultados obtidos na pesquisa realizada foram superiores, isso sinaliza que o manejo sustentável do solo e de culturas no Cerrado pode desempenhar um papel muito importante para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2).

Saúde do solo

Segundo a pesquisa, os melhores índices para todas as situações, seja em ILP, seja em sucessão de culturas, foi maior em plantio direto, em comparação aos sistemas de preparo convencional da terra (aração e gradagem). Isso ocorre porque o não revolvimento favorece maior estruturação, com a formação de agregados (pequenos torrões) que “empacotam” matéria orgânica, protegendo-a da rápida decomposição.

A pesquisadora da Embrapa Márcia de Melo Carvalho, que participou do estudo, também chama a atenção para a importância da proteção que o plantio direto proporciona. A estratégia garante uma camada protetora (palhada) contra o impacto de gotas de chuva, permitindo a infiltração da água, além da regulação da temperatura no solo. Logo, quanto mais matéria orgânica no solo, maior a proximidade de um estado de saturação com CO2.

Outros benefícios

Como já noticiado outras vezes pelo Gigante 163, além do acúmulo de CO2, estas práticas de manejo também melhoram a qualidade e a produtividade agropecuária. Só para começar a citar, a produção de grãos e pastagens na mesma área traz vantagens como: regulação do fornecimento de água, controle das emissões de gases de efeito estufa, ciclagem de nutrientes, manutenção da biodiversidade e controle biológico.

É o que foi constatado na Fazenda Pontal, em Nova Guarita (675 km de Cuiabá). Recentemente mostramos que, com base na ILP e na maior oferta de forragem durante o período seco do ano, o Sistema Pontal garantiu a inversão da estação de monta e aumentou a produtividade da pecuária de corte. Ali, a taxa de lotação chega a três unidades animal por hectare (UA/ha), número superior à média brasileira de 0,5 UA/ha.

LEIA MAIS:

Integração lavoura-pecuária garante ocupação de gado acima da média

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta contribui para descarbonização e saúde do solo

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta contribui para descarbonização e saúde do solo

Sombra e água fresca: integração entre pasto e floresta protege rebanho e aumenta produtividade

Pecuaristas já devem se planejar para a estação de monta em MT

Restauração de área degradada em MT melhora qualidade de bezerros

Estratégia nutricional durante a seca melhora produtividade dos animais