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Tecnologia e diversificação são chave para MT liderar mercado de carbono

Tecnologia e diversificação são chave para MT liderar mercado de carbonoHoje o Brasil só realiza operações no mercado voluntário. Foto: Reprodução

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Por André Garcia

Ao contrário dos países desenvolvidos, que têm uma matriz energética que precisa ser descarbonizada, o Brasil tem no agronegócio a chave para alavancar a captação de milhões e até bilhões de dólares por meio do mercado carbono. A avaliação é do diretor da Kryia Agronegócios de Baixo Carbono, Nuno Cunha.

Ao Gigante 163, ele explica que a regulação das transações pela Política Nacional de Mudanças Climáticas certamente vai priorizar o setor, devido ao seu alto potencial. Bom negócio para Mato Grosso, que, além de ser líder na produção agropecuária, já possui uma meta de carbono zero estabelecida.

“O agronegócio se distingue em nível mundial por ser líder no fornecimento de alimentos e, consequentemente, oferecer tecnologias que apresentam uma relação de custo-benefício atrativa para quem quer investir na redução de gases como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso”, afirmou.

Outra vantagem é a variedade de atividades que podem ser aplicadas a este mercado, o que pode mudar o cenário atual do agro, que tem baixa representação percentual entre os projetos certificados mundialmente.

“Diversas atividades podem participar deste mercado, como sequestro de carbono florestal e no solo, geração de energia de resíduos, redução de metano de fermentação entérica bovina, redução na aplicação de compostos nitrogenados por bioinsumos etc”, destaca Nuno.

Lucro estimado

Com relação às estimativas de ganho, o diretor explica que há uma grande variação, em função da escala de geração de créditos, risco, tecnologia e benefícios sociais agregados.

“Atualmente, enquanto não temos operações em bolsa, a maioria tem sido feita em balcão, o que inibe a precificação dos valores monetários praticados.”

Como já noticiado por nós, há, entretanto, previsões de que o mercado de carbono possa gerar, a partir da restauração otimizada de apenas 10% da área degradada da Amazônia, uma receita de até R$ 132 bilhões. O estudo é do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

Já os cálculos do CEO da Digital Gaya, Ned Harvey, apontam investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20bilhões por ano a partir da adoção de novas tecnologias e modelo de produção agropecuária carbono zero. Desta forma, o setor agregaria anualmente ao PIB nacional entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões.

Estratégia

Neste cenário, Nuno destaca que a união entre os produtores pode fazer a diferença. Isso porque, ao se agruparem para estruturar programas de descarbonização, em vez de projetos, os produtores rurais podem reduzir os custos da certificação e, ao mesmo tempo, agregar valor ao produto.

“No primeiro momento, o foco [dos projetos] tem que ser os serviços ecossistêmicos de Reservas Legais e Áreas de Preservação Ambiental. Em um segundo momento abre-se possibilidade para projetos como o fomento de energias renováveis, produção de biogás e minimização de emissões de metano entre várias outras”, avalia Cunha.

Gargalos

Atualmente, o Brasil só realiza operações no mercado voluntário, por meio de plataformas privadas estrangeiras que certificam os créditos. Entre os gargalos para o estabelecimento de negociações em âmbito nacional, estão a falta de legislação e de metodologias de cálculo e monitoramento adequadas à realidade brasileira.

“O mercado de carbono esteve bem estabelecido sob a égide do Protocolo de Quioto através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, do qual o Brasil foi um dos mais beneficiados. Entretanto, esse mercado focou principalmente em projetos de energia, tendo ficado de fora aqueles relacionados ao agronegócio”, avalia Nuno.

A questão tem avançado. O PL 528/21, que institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), por exemplo, está em curso na Câmara dos Deputados. Recentemente, o professor de Direito e ASG, Leonardo Freire, explicou ao Gigante 163 que há pontos a serem alinhados, especialmente sobre as implicações tributárias dessas operações.

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