Um estudo inédito aponta que o processo de decomposição da serrapilheira – camada de restos de plantas e material orgânico que cobre o solo – tem correlação direta com a diversidade da flora local e com o sinergismo de fatores, como a ação dos microrganismos decompositores, que ocorrem principalmente no período chuvoso.
Parceria de pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF), da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), a pesquisa foi desenvolvida em uma área florestal nativa de Cerrado e pode contribuir para o controle ambiental e iniciativas de conservação, como a recomposição de áreas degradadas e o controle da perda de matéria orgânica do solo.
A serrapilheira exerce funções importantes no equilíbrio e na dinâmica dos ecossistemas, sobretudo em regiões do Cerrado, onde a maioria dos solos apresenta baixa fertilidade natural.
Por consequência, a sua decomposição ajuda a manter as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e a ciclagem de nutrientes, além de ter papel relevante na manutenção ecológica de diversas funções e sistemas florestais.
Como novidade, o artigo traz dados sobre a decomposição total da serrapilheira de uma área de Cerrado. Até então, os textos científicos sobre o processo no bioma apresentavam uma análise em curto período de tempo, contemplando dados coletados somente até a meia-vida, ou seja, a quantidade de dias necessários para o desaparecimento de 50% da matéria orgânica, sendo o tempo total de decomposição estimado por meio de modelos matemáticos.
“Acompanhamos a decomposição da serrapilheira até o fim, o que representou 2.070 dias de observação”, explica a pesquisadora da Unb Fabiana Ribeiro, uma das autoras do estudo, ao lado Alexsandra Oliveira, da Embrapa Cerrados
O trabalho está descrito no artigo How long does it take to decompose all litter in Brazilian savanna forest? (em inglês).
Controle ambiental
Por ser um método de monitoramento não destrutivo para avaliação da qualidade florestal, o estudo da dinâmica de decomposição da serrapilheira trouxe resultados relevantes para a elaboração de projetos de conservação e controle ambiental.
“Caso a floresta seja substituída por uma lavoura, é possível estimar a perda de nutrientes naturais. E, conforme o manejo do solo, podemos controlar a perda de matéria orgânica da superfície do solo”, exemplifica Fabiana.
Ela salienta que essa é uma iniciativa importante para projetos de recuperação de áreas degradadas.
“Nesse contexto, o conhecimento associado do tempo de ciclagem da serrapilheira poderá contribuir para estudos de resiliência do ecossistema (Cerrado). Resultados como os que obtivemos podem auxiliar na geração e orientação de políticas públicas voltadas ao funcionamento da resiliência climática, que tem a ver com a sustentabilidade”, finaliza a pesquisadora da Embrapa.
Fonte: Embrapa