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Amazônia pode entrar em colapso e se tornar “deserto” antes do esperado

Amazônia pode entrar em colapso e se tornar “deserto” antes do esperadoSimulações consideram múltiplos cenários. Foto: Greenpeace

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Mudança climática, desmatamento e perda da biodiversidade devem fazer com que a Amazônia entre em colapso antes do que cientistas previam. A conclusão é resultado de simulações computacionais conduzidas por pesquisadores britânicos, e aumenta a preocupação sobre a desertificação do bioma.

À Folha, o primeiro autor do estudo, Simon Willcock, ligado ao Centro de Pesquisas Rothamsted e à Universidade de Bangor (País de Gales), explicou que a ruína precoce da Amazônia e de outros ecossistemas foi observada a partir da combinação de cenários nos quais houve exposição a múltiplos “estresses” ao mesmo tempo.

“Pode ocorrer, por exemplo, a combinação de mudança climática, desmatamento e perda de biodiversidade ocasionada pela caça, bem como eventos climáticos extremos. Todos esses fatores refletem relativamente bem os estresses que estão afetando a Amazônia recentemente e vão afetá-la no futuro próximo”, resume Willcock.

De acordo com as modelagens, o acréscimo de fatores aleatórios, como seca ou excesso de chuvas não previstos, faz com que os colapsos ambientais fiquem entre 40% e 80% mais perto de acontecer no futuro próximo.

“Um trabalho recente mostrou que a Amazônia já está perdendo resiliência, enquanto outro indicou que, uma vez que o colapso começar, ele será rápido. Segundo esse trabalho, se o processo começar em 2030, por exemplo, ele poderá se completar em 2080”, diz o cientista.

Ruído

A situação é ainda pior quando se considera o que os pesquisadores chamam de “ruído”. O termo se refere a ocorrências que são essencialmente aleatórias —por azar, acontece uma seca ou uma enchente muito acima do esperado, por exemplo—, mas que podem fragilizar de vez um ambiente que já estava baqueado pelos fatores mais constantes.

A chamada savanização da Amazônia —ou seja, a possibilidade de diminuição drástica das matas úmidas e fechadas, substituídas por vegetação mais seca e aberta— entra nessa categoria, e outros estudos também apontam uma situação muito preocupante, segundo o pesquisador britânico.

“A principal incerteza é saber quando esse limiar crítico será cruzado”, diz ele. “Muito disso vai depender de como as pessoas ao redor do planeta vão alterar seu comportamento para reduzir emissões de gases causadores da mudança climática.”

Ponto de não retorno

Publicado na revista especializada Nature Sustainability, o trabalho da equipe britânica abrangeu ainda outros exemplos reais e teóricos de colapso ambiental, todos simulados em modelos computacionais com diferentes graus de complexidade.

Alguns deles foram o impacto da atividade pesqueira na laguna de Chilika, na costa oriental da Índia; do crescimento populacional humano e degradação ambiental que afetou a ilha de Páscoa, no Pacífico, antes da chegada dos europeus; e, por fim, do chamado Lago Fósforo.

Esses cenários bastante distintos entre si têm em comum o fato de que todos podem estar sujeitos a um “ponto de virada” qualitativo, no qual esses ambientes podem assumir uma feição completamente diferente caso determinado limite seja ultrapassado. A questão, vem sendo abordada pelo Gigante 163.

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