HomeEcologiaEconomia

Estoque de CO2 no Cerrado começa a chamar atenção do mercado internacional

Estoque de CO2 no Cerrado começa a chamar atenção do mercado internacionalCaracterísticas do Cerradopodem ser vantagem comercial. Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT

MT pode encerrar período proibitivo com menor número de queimadas para outubro
Produção sustentável recebeu cerca de R$ 1 bilhão no Cerrado
Um bilhão de vacas na Amazônia e no mundo podem sofrer por estresse térmico

Menos conhecido e mais ameaçado que a Amazônia, o Cerrado começa a despertar interesse no mercado internacional de créditos de carbono. De olho no potencial do bioma, representado, por exemplo, pelas 8,1 gigatoneladas (Gt) de CO2 existentes em seu solo, startups como a ERA (sigla para Ecosystem Regeneration Associates), já fazem suas apostas.

Pioneira na região, a empresa tem 18 mil hectares de projetos implantados, a maior parte deles em Niquelândia (GO), em terras da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Há ainda mais 50 mil hectares em fase avançada de negociação — uma área ainda pequena, quando comparada aos projetos da Amazônia, onde cada um pode ter milhões de hectares.

Em entrevista publicada recentemente pela Reset, a CEO e fundadora da ERA, Hannah Simmons, explicou que os desafios para desbravar esse mercado vêm tanto do lado da demanda, quanto da oferta.

“Estamos num processo de mostrar o que é o Cerrado. É o [Hemisfério] Norte que compra os créditos, e eles não fazem ideia do que se trata. Existem muitas empresas, multinacionais inclusive, que têm sua cadeia de fornecimento no Cerrado, mas essa conversa ainda anda muito devagar”, disse.

A questão é tornar a vegetação nativa em pé competitiva em relação à soja. Enquanto na floresta amazônica o maior problema é o desmatamento ilegal, no Cerrado a dinâmica é diferente.

“Estamos falando de uma metodologia de desmatamento planejada, em que o agente primário de desmatamento é o proprietário que está renunciando ao direito dele de desmatar e que, por isso, pode gerar um crédito de carbono”, afirmou.

Diferenciação

A diferenciação em relação ao bioma é importante porque, para valer a pena, o crédito de carbono no Cerrado demanda um preço mais salgado, de cerca de US$ 30 a US$ 40 por tonelada. Hoje, os créditos de REDD+ – quase uma exclusividade da Amazônia no Brasil atualmente– são negociados entre US$ 10 a US$ 15.

Outra diferença em relação à Amazônia é que o Cerrado tem menos densidade de carbono por hectare, o que implica uma área mais ampla de conservação para emitir uma boa quantidade de créditos.

Outro ponto relevante é a repartição de benefícios sociais. Na Amazônia, boa parte da renda dos projetos de carbono vai (ou ao menos deveria ir) para as comunidades tradicionais – que normalmente são os guardiões, senão os donos dos territórios.

No Cerrado, a maior parte do dinheiro remunera o proprietário. Na metodologia da ERA, no entanto, pelo menos 10% são destinados a cobenefícios de biodiversidade ou sociais.

“É o que chamamos de ‘efeito Robin Hood’: pegamos uma parte do dinheiro do latifundiário para construir escola, para monitorar a fauna, para fazer um projeto de agrofloresta com a comunidade em volta”, diz Simmons.

Pelo Código Florestal, apenas 20% da propriedade precisa ser conservada. Ou seja, o produtor pode escolher desmatar na área restante. Para manter a vegetação intacta, a conta precisa fechar. Neste contexto, um dos grandes desafios é encontrar proprietários que tenham áreas relevantes de excedente de reserva legal.

LEIA MAIS:

Amazônia e Cerrado têm maior estoque de carbono no solo do Brasil

Saiba as vantagens da agricultura de baixo carbono, destaque do Plano Safra

Tocantins investe no mercado de carbono

Empresas podem proteger florestas e lucrar com mercados de carbono

Com desmatamento recorde, Cerrado preocupa mais que Amazônia

Desmate no Cerrado cresce 83% em maio; na Amazônia cai 10%