Por André Garcia
O Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, teve reduções significativas de chuvas nos últimos 30 anos. A precipitação anual entre 1991 e 2021 declinou de maneira geral na região em comparação com 1960 -1990, bem como o número de dias chuvosos no ano. É o que mostra estudo publicado nesta semana no periódico Scientific Reports.
De 70 locais analisados, 54 tiveram declínio ao longo do ano, enquanto 16 tiveram aumento. Na estação seca, entre junho e setembro, e no começo da estação chuvosa, em outubro e novembro (meses de inverno e primavera), a queda na quantidade de chuva e no número de dias chuvosos chega a 50%.
A escassez prejudica diretamente o agronegócio, que depende da regularidade no regime de chuvas para o desenvolvimento da atividade.
Um dos responsáveis pelo estudo, o ecólogo Gabriel Hofmann, explica que, como o Cerrado concentra as nascentes das principais bacias hidrográficas do País, o dano econômico, ecológico e humano pode ser gigantesco nos próximos anos, em especial para o Pantanal, bioma que depende 100% das águas do Cerrado.
“Nossos resultados e as projeções de cenários futuros geradas por outros estudos põem em questão a manutenção do modelo de produção agrícola praticado atualmente no Cerrado, em particular no que diz respeito à agricultura industrial”, afirmou ao Observatório do Clima.
Desmatamento
Segundo Hofmann, uma das causas principais para o sumiço gradual da chuva é o desmatamento do bioma, que já perdeu 50% de sua vegetação nativa, sumindo proporcionalmente mais depressa que a Amazônia.
Dados do MapBiomas já haviam mostrado que o Cerrado sofreu uma redução de 68 mil hectares em sua superfície de água entre 1985 e 2021.
O desmatamento reduz drasticamente a evapotranspiração, ou seja, o “suor” das árvores, algo que no Cerrado ajuda a manter alguma umidade mesmo nos meses de seca. Hofmann e outros cientistas já haviam demonstrado em 2021 que o bioma está ficando mais quente e seco por conta do desmate.
“A vegetação umidifica o Cerrado. Se você tira a vegetação esse efeito some”, diz o cientista.
A esse efeito soma-se um outro, que ocorre a milhares de quilômetros da savana: o aquecimento da Terra, que vem alterando o regime de ventos no Atlântico Sul e espantando a umidade para longe do Cerrado.
Ameaça hídrica
A questão também foi abordada pelo diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, durante o Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, realizado nesta terça-feira,11/7.
Na ocasião, ele destacou que o bioma é fundamental para o abastecimento hidrelétrico do País, além de concentrar 3.427 nascentes que abastecem a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica.
“O protagonista da diminuição da vazão dos rios do Cerrado é a ocupação agrícola, em especial a que envolve os pivôs centrais. O abastecimento público e o energético ficam comprometidos nesses cenários tendenciais.”
LEIA MAIS: