Por André Garcia
Frente à ameaça dos incêndios florestais, historicamente intensificada a partir do segundo semestre do ano, o Ibama ampliou a quantidade de Brigadas Federais e aumentou em 17% o número de brigadistas em áreas sob ameaça do fogo.
O trabalho foi anunciado na terça-feira 22/8, em reunião que deu início às atividades do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional (Ciman). A instituição informa que o objetivo é buscar soluções conjuntas para o combate às queimas, especialmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os mais ameaçados.
Isso porque, as três regiões abrigam os maiores biomas do Brasil: Amazônia e Cerrado, que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), respondem juntos por 84,5% do total de focos de queimadas registrados no País de janeiro até agora.
“Contamos com 2.108 brigadistas, que hoje tem uma atuação direta numa área de 300 mil km². No entanto, precisamos, também, elaborar planos de ação específicos para todos os biomas do país”, disse o presidente do Instituto, Rodrigo Agostinho.
Situação atual
A Amazônia concentra 45.4% dos focos neste ano (26.616) e o Cerrado 39.1% (22.927). No período, considerando os focos por Estado, Mato Grosso lidera o ranking com 9.678 registros, seguido do Pará com 9.030 e do Maranhão com 7.023.
As porcentagens causam preocupação entre os especialistas, já que tendem a crescer nesta época do ano por conta da seca. Isso significa que a ausência quase total de chuva nestas regiões pode se estender até outubro, o que pode agravar e muito o cenário.
Para se ter ideia, o mês de agosto ainda nem acabou, mas já conta com números de focos superiores aos registrados em julho em parte do Centro-Oeste. Em Mato Grosso, a contagem foi de 1453 para 2137 (47%), enquanto em Goiás foi de 366 para 468 (27%).
Por outro lado, Mato Grosso do Sul apresentou redução de 307 para 209 (31%) e o Distrito Federal, se manteve estável, com 21 registros em ambos os meses, de acordo com os dados do Programa Queimadas do Inpe.
El Niño
Na reunião de Lançamento do Ciman, o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), João Paulo Capobianco, explicou que a ação prevê contextos de extremos climáticos e de efeitos do El Niño.
“É motivada por ações consistentes no enfrentamento dos incêndios e queimadas florestais, cada vez mais frequentes, devido ao avanço dos eventos climáticos extremos em todo o mundo este ano”, afirmou.
Neste contexto, citou a missão humanitária para combate aos incêndios florestais que atingem o Canadá. O trabalho conta com 102 especialistas brasileiros, incluindo profissionais do Ibama e do MMA, que retornam ao País nesta quarta-feira, 23/8.
Efeito dominó
Como já mostrado pelo Gigante 163, o combo El Niño + queimadas deixa a perspectiva ainda mais crítica, já que, além de ocasionar prejuízos ambientais e à agricultura, pode ser fatal para a saúde.
Para além de problemas respiratórios como alergias, asma e pneumonia, ampliados pelo calor intenso, pela seca e pela fumaça, especialistas já apontam que as temperaturas mais altas também resultarão em aumento de casos de câncer de pele.
Na quarta-feira, 23/8, ao apresentar dados sobre as emissões de CO2 na Amazônia, a pesquisadora do Inpe Luciana Gatti explicou como as condições de degradação ameaçam as plantas nativas e podem resultar na desertificação do bioma.
“As espécies são substituídas por outras que não jogam tanto vapor na atmosfera para fazer chuva e resfriar a temperatura. É essa dinâmica que faz do nosso país tão produtivo na agricultura. Então, estamos afetando a condição básica de toda nossa economia.”
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