Por André Garcia
No último mês, a arroba do boi acumulou queda de 23%, o que faz com que 2023 seja considerado como um dos piores anos da história para a pecuária brasileira. Diante das margens negativas, soluções como a rastreabilidade podem ajudar muitos produtores a reverterem o cenário.
Além de ser apontada como um dos instrumentos de acesso ao mercado europeu, especialmente após aprovação da Lei Antidesmatamento, ela também é encarada como mecanismo de melhoria da gestão das fazendas e como estratégia para garantir remuneração extra.
Foi o que explicou à reportagem do Gigante 163, o superintendente da Associação sul-mato-grossense Novilho Precoce, Alexandre Guimarães, ao apontar que a norma europeia pode trazer mudanças positivas ao setor. Isso porque, para atendê-la, o Brasil passará a oferecer produtos com mais qualidade, ou seja, com maior valor agregado.
“A remuneração por parte deste mercado consumidor mais exigente pode impulsionar essa mudança, porque estamos falando de gastos adicionais para os pecuaristas. Ou seja, se o mercado realmente deseja isso, então deve pagar por esse aumento no controle”, pontua Alexandre.
Remuneração
Algumas das hipóteses consideradas pelo setor para compensar os investimentos na rastreabilidade incluem uma eventual contribuição dos europeus para iniciativas antidesmatamento ou até mesmo para implantação de sistemas de controle no Brasil, o que poderia acontecer via Fundo Clima ou por meio de outros acordos de cooperação.
Ele lembra que os europeus já fazem isso por meio da Cota Hilton, por exemplo. O acordo comercial permite a exportação limitada de cortes bovinos de altíssima qualidade de alguns países para a União Europeia, mediante o pagamento de bonificações. Atualmente, a cota brasileira é de 10 mil toneladas de carne desossada por ano.
“Quando há remuneração, o produtor atende. Se ele entender que terá um benefício tanto organizacional e gerencial da fazenda, além do financeiro, com certeza esses desafios serão superados.”
Pecuária de precisão
Neste contexto, outra estratégia que pode avançar é a pecuária de precisão, que permite aumentar a eficiência do uso de insumos e reduzir esforços. As tecnologias de pecuária de precisão incluem sistemas automatizados de pesagem, comportamento alimentar, frequência cardiorrespiratória, temperatura corporal etc.
“O gado nem sempre passa toda a sua vida na mesma fazenda e é nessas trocas que as informações se perdem. Existem softwares e brincos eletrônicos que ajudam a manter essas informações, só que não é todo mundo que usa essas tecnologias, porque elas geram um impacto, principalmente para o pequeno”, diz Alexandre.
Potencial
Para a rastreabilidade avançar, é preciso conciliar ferramentas tecnológicas adequadas, acessíveis e de baixo custo. Atualmente o País tem 2.522.487 propriedades de pecuária, das quais apenas 1327 abrigam rebanho bovino rastreado, segundo o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (Sisbov).
O sistema é do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), compreende as unidades aptas às exportações para a Europa. Portanto, para melhorar os números, é necessário ainda integração com diversos mecanismos de fiscalização que conciliem aspectos fiscais, fundiários e sanitários.
O Centro-Oeste é a região com maior potencial, já que é formada pelos três estados que lideram a rastreabilidade no Sisbov. Só em Mato Grosso, as propriedades somam cerca de 5,7 milhões de animais rastreados. O número, contudo, representa apenas 8.1% das 70 milhões de cabeças de gado bovino da região.
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