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Produção de alimentos lidera emissões de gases do efeito estufa

Produção de alimentos lidera emissões de gases do efeito estufaEmissões são dominadas pelo desmatamento. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Na ordem do dia das negociações internacionais sobre mudanças climáticas, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) dos sistemas alimentares chegaram a 1,8 bilhão de toneladas em 2021 no Brasil. O número representa 73,7% das 2,4 bilhões de toneladas brutas lançadas pelo País na atmosfera, segundo estudo inédito do Observatório do Clima divulgado nesta terça-feira, 24/10.

O levantamento integra o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e mostra que as emissões de sistemas alimentares do País são dominadas pelo desmatamento: o setor de mudança de uso da terra responde por 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, ou 56% do total do setor. Depois vem a agropecuária (cujas emissões são geradas sobretudo pelo rebanho bovino), com 600 milhões de toneladas ou 34% do setor, seguida de energia, com 6% (100 milhões de toneladas).

Os cálculos incluem o gás carbônico que vai para o ar quando vegetação nativa é convertida em lavouras e pastos, as emissões diretas da agropecuária — como o metano do “arroto” do gado —, os combustíveis fósseis queimados por máquinas agrícolas e pelo transporte da comida, o uso de energia na agroindústria e nos supermercados e os resíduos sólidos e líquidos de todos esses processos.

Assim, no recorte da carne bovina se estima que essa cadeia tem uma emissão de 1,4 bilhão de toneladas brutas. Se fosse um país, o bife brasileiro seria o sétimo maior emissor do planeta, à frente do Japão. O desmatamento responde por 70,6% das emissões da carne, seguido pelas emissões diretas do rebanho (29,2%). Os setores de energia e resíduos têm participação de 0,2% do total.

“Esse estudo inova ao trazer um olhar transversal sobre as emissões, conectando numa cadeia todos os setores de emissão que são tratados isoladamente nas metodologias de inventários. E, no Brasil, os sistemas alimentares, e dentro deles a cadeia da carne bovina, respondem pela maior parcela das emissões, merecendo esse olhar especial”, afirma David Tsai, coordenador do SEEG.

Sequestro de carbono

Um exemplo desse olhar é o sequestro de carbono em solos, sobretudo em pastagens bem manejadas. A imensa área de pastos degradados do Brasil — 96 milhões de hectares, segundo o MapBiomas — tornava o País um grande emissor. Na última década, na esteira do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), produtores começaram a recuperar pastos degradados e hoje essas áreas já capturam 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.

De acordo com o SEEG, a remoção líquida de carbono nos solos chegou a 138 milhões de toneladas em 2021, só que essa captura ainda não é contabilizada no inventário nacional de emissões e, portanto, não pode ser oficialmente computada para efeito de cumprimento de metas internacionais no clima.

“Ele [o relatório] demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono”, avalia Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

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