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Agropecuária regenerativa é o grande desafio do Brasil, diz Nobre

Agropecuária regenerativa é o grande desafio do Brasil, diz NobreFoto: Agência Brasil

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Por André Garcia 

Atrás da China e dos Estados Unidos quando o assunto é agricultura regenerativa, o Brasil está com a faca e o queijo na mão e pode assumir a liderança global na implantação do sistema, responsável por remover gás carbônico da atmosfera e por combater a emergência climática.

Embora a estratégia seja muito mais produtiva e mais lucrativa, o País ainda patina em uma mudança de cultura no agronegócio. Foi o que explicou ao Gigante 163 o cientista Carlos Nobre.

“Infelizmente o agronegócio é o setor econômico onde é maior o negacionismo das mudanças climáticas e isso não é só no Brasil, acontece em inúmeros países que são grandes produtores agrícolas. Aqui nós temos um grande desafio que é converter a nossa agropecuária para agropecuária regenerativa”, disse.

Quando se fala em agricultura e pecuária regenerativas, há um enorme potencial também no mercado de carbono que vem se consolidando. Neste contexto, de acordo com Nobre, a redução de emissões de gases do efeito estufa na Amazônia tem valor maior que o da pecuária no bioma hoje.

“Você pode gerar entre U$ 250 e U$ 300 por hectare por ano, enquanto a pecuária dá uma média de U$100 dólares de lucro por hectare.”

Outra estratégia em potencial é a recuperação de pastagens degradadas. Segundo Nobre, o País tem cerca de 1,6 milhões de km² de pastagens, sendo que mais de 50% delas apresentam algum grau de degradação.

Resiliência climática

Além disso, estes sistemas agropecuários são mais resilientes aos extremos climáticos, que, como já mostrado por nós, se apresentam como uma nova realidade. Assim, quando se tem uma cultura agrícola no meio de uma floresta recuperada, por exemplo, a tendência é de queda das temperaturas.

“A floresta transpira bastante água e mantém as temperaturas mais baixas. Diminui-se também a erosão, então quando tem tempestades muito intensas, mantém-se no solo um número muito maior de polinizadores que aumentam muito a produção da agricultura”, explica Nobre.

A adoção dessas práticas pode fazer com que o Brasil diminua muito rapidamente as emissões, e alcance os planos de desmatamento de todos os biomas até 2030, atingindo, portanto, as metas do Acordo de Paris que preveem a redução de 50%.

Para Nobre, o caminho está na mudança da cultura secular da agropecuária brasileira, focada na expansão.

“É essencial que o Brasil consiga mudar esse fator cultural e que se construam mecanismos e políticas de incentivo para uma rápida transição para agricultura regenerativa.”

Dados esses passos, o Brasil será um dos primeiros países de grandes emissões, o quinto maior emissor, a atingir as metas do Acordo de Paris.

“Isso é muito factível. Isso pode ser feito e certamente vai colocar o Brasil na liderança mundial de combate à emergência climática”, conclui.

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