A instabilidade do clima, que gerou perdas de R$ 33,7 bilhões no campo com eventos extremos de norte a sul do País neste ano e tem forçado agricultores do Centro-Oeste a replantar áreas de soja nesta safra, não vai dar trégua ao setor em 2024. Além de estarem mais intensos, os fenômenos climáticos são mais recorrentes, e há cada vez menos espaço para períodos de neutralidade.
Em entrevista ao Globo Rural publicada nesta terça-feira, 14/11, Willians Bini, meteorologista que lidera a área de comunicação da Climatempo, afirmou que já há indícios de que irá ocorrer um novo La Niña no ano que vem, fenômeno que já causou três anos consecutivos com chuvas abaixo da média no Sul do Brasil.
Por ora, os produtores tentam se adaptar aos efeitos que o El Niño causará até abril de 2024, mas não terão tempo de tirar os olhos do céu e “girar a chave” antes de um novo fenômeno climático afetar as suas lavouras. Isso reforça que os períodos de neutralidade do clima estão cada vez mais raros, o que demanda atenção constante dos produtores e mais assertividade na adaptação para resistir aos novos tempos.
“O El Niño começa a perder força no verão, mas o outono ainda deve sofrer influência dele. O inverno ainda é uma incógnita, mas pode ocorrer um novo La Niña, trazendo precipitações menores para o Sul”, disse Bini durante o 2º Fórum Futuro do Agro, em São Paulo.
Na segunda-feira, 13/11, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgaram um estudo que mostra o avanço da intensidade dos extremos climáticos no Brasil. Entre 1961 e 1990, o número de dias consecutivos secos era, em média, de 80 a 85 dias. Subiu para cerca de 100 dias para o período de 2011 a 2020 nas áreas que abrangem o norte do Nordeste e o centro do País. O número de dias com ondas de calor passou de sete para 52 em 30 anos.
Desde 2014, há ocorrência alternada quase ininterrupta dos El Niño e do La Niña. Os problemas climáticos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões à agropecuária brasileira, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), de 2013 a 2022. Só em 2023, foram outros R$ 33,7 bilhões, sendo R$ 24,6 bilhões na agricultura e R$ 9,1 bilhões na pecuária.
Segundo um estudo recente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o agronegócio mundial amargou um prejuízo de US$ 3,8 trilhões (mais de R$ 19 trilhões) nos últimos 30 anos em virtudes dos eventos climáticos extremos.
Bini disse que o fim da primavera e o início do verão registrarão novos períodos sem chuvas e com altas temperaturas no país, com previsão de perdas na safra de grãos. E aquilo que preocupa os produtores de grãos, principalmente do Centro-Oeste, pode se intensificar.
“No Mato Grosso, muitos lugares estão em processo de replantio. Onde as temperaturas chegaram a 40 ºC, no solo pode passar de 50 ºC. Com isso, as plantas emergentes e sementes são praticamente cozinhadas”, concluiu.
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