O desmatamento no Cerrado cresceu 86% em outubro de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 109 mil hectares. Esse é o pior resultado para o mês de outubro nos últimos três anos e terceiro pior mês de 2023. Dados foram detectados pelo SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) nesta sexta-feira, 24/11. O desmatamento acumulado de 2023 até esse mês chega a 851 mil hectares, área sete vezes maior do que a cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com outro levantamento, o do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), a devastação no bioma foi 203% maior que a registrada no mesmo período de 2022.
O aumento das taxas em outubro foi novamente liderado por estados do Matopiba – fronteira agrícola composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – e intensificado pela forte seca que atinge o bioma. Pesquisadoras do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) apontam que a tendência de diminuição na abertura de novas áreas, esperada para o mês de outubro, pode ter sido revertida por conta da falta das chuvas.
Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) aponta que a conversão de áreas nativas do Cerrado para pastagens e agricultura já tornou o clima na região quase 1°C mais quente e 10% mais seco. Os resultados apontam um calor severo e períodos ainda mais secos até meados do século, se o desmatamento continuar no ritmo atual. O aumento de temperatura foi de 0,7°C no pior cenário e de 0,3°C no cenário intermediário.
O SAD Cerrado é um sistema de monitoramento desenvolvido por pesquisadores do IPAM que fornece alertas de desmatamento de vegetação nativa em todo o bioma. O projeto faz uso de imagens do satélite Sentinel-2 (com 10 metros de resolução), da Agência Espacial Europeia, e técnicas avançadas de processamento de imagem.
Novo perfil
Outubro apresentou mudanças em seu padrão de desmatamento. No último mês, 12% dos alertas foram referentes a áreas enquadradas como vazios fundiários – terras públicas sem destinação definida sem informações – que representam 9% dos alertas em setembro. A categoria com mais alertas, no entanto, ainda foi a de áreas privadas, com mais de 75% da área derrubada.
O perfil da vegetação desmatada também passou por mudanças. Embora as savanas do Cerrado ainda sejam as mais afetadas, houve um aumento da supressão de vegetação nativa da formação campestre do bioma em outubro: de 26% em setembro, foram para 32% de toda a vegetação nativa perdida no mês passado.
“A concentração do desmatamento em áreas campestres e savânicas, apontada pelos dados do SAD Cerrado, é um indicativo de que a abordagem global para perdas de florestas vem falhando ao não considerar a importância da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos prestados por formações não florestais, como as presentes na maior parte do Cerrado. Por isso, é urgente agir contra a destruição desse bioma e coordenar esforços para protegê-lo diante da crise climática. A revisão do PPCerrado oferece uma oportunidade crucial para intensificar o compromisso na implementação de medidas de proteção e reverter a destruição em andamento”, ressalta Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM.
Segundo pesquisadores, os esforços internacionais para conter o desmatamento em florestas, como na Amazônia, podem deixar outros tipos de vegetação nativa, como os campos do Cerrado, vulneráveis. Por isso, no início do mês, mais de 40 pesquisadores brasileiros assinaram uma carta publicada na revista Nature Ecology & Evolution em defesa “da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos prestados por biomas não florestais.”
Apesar de representar cerca de um quarto de todo o território nacional, apenas 8% do bioma Cerrado é protegido por UCs federais de proteção integral ou uso sustentável, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em 2022, mais da metade da área do bioma já havia sido convertida para uso agropecuário, como apontado pelo MapBiomas.
SAD Cerrado
O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um projeto de monitoramento mensal e automático que utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. O SAD Cerrado é uma ferramenta analítica que fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre desmatamento no bioma desde agosto de 2020.
O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado constitui uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.
Acesse os dados georreferenciados clicando aqui.
Fonte: IPAM