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Produção em meio a árvores ajuda na adaptação do agro ao calorão

Produção em meio a árvores ajuda na adaptação do agro ao calorãoAjuste passa por investimento em tecnologia e sustentabilidade. Foto: Agência Brasil

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Nova onda de calor atinge o Brasil e temperaturas podem chegar a 40ºC

O ano de 2023 está caminhando para ser o mais quente já registrado na história, com recordes de calor tanto no verão do hemisfério norte, quanto no inverno do hemisfério sul. No Brasil, a recente onda de calor em novembro elevou as temperaturas a mais de 40 °C.

O calor extremo pode causar impactos consideráveis na produção agropecuária. A literatura científica mostra que muitas culturas relevantes para a economia do Brasil poderão sofrer perdas significativas. Por exemplo, temperaturas superiores a 35 °C prejudicam plantações de feijão, café, laranja e cana-de-açúcar, entre outras. Além do risco de perdas na produção e na produtividade, o calor extremo também coloca a saúde do trabalhador rural em risco, expondo-o a trabalho sob estresse térmico elevado.

Para garantir que o Brasil continue tendo uma agricultura forte e dinâmica, e ajudá-la a fazer a sua parte na transição para uma economia de baixo carbono, será necessário investir em tecnologias de adaptação às mudanças climáticas.

A boa notícia é que há uma tecnologia simples e de alta eficiência para adaptar nossa agropecuária e garantir uma produção sustentável de alimentos: as árvores.

Uma revisão de trabalhos científicos da Embrapa analisou dados mostrando a importância da incorporação de árvores em sistemas de produção agrícola. O trabalho mostra que modelos definidos em políticas públicas como o Plano ABC, o RenovAgro e o Planaveg podem proporcionar um ambiente mais resiliente a secas, aumento da umidade do ar, redução do impacto da temperatura e dos riscos de incêndios, entre outros. Ou seja, uma agricultura adaptada às mudanças climáticas.

O estudo

A pesquisa analisou 334 dados extraídos de 51 estudos que passaram por revisão de pares entre 1998 e 2022. A análise conjunta desses dados mostrou com alto grau de certeza que sistemas produtivos agrícolas com árvores são mais resilientes e adaptados a eventos extremos causados pelas mudanças climáticas quando comparados a sistemas sem árvores.

O estudo também aponta que a adoção de modelos de baixa emissão de carbono na agricultura é uma opção viável, estratégica e bem alinhada com uma economia de baixo carbono. Seu resultado se soma a um trabalho apoiado pelo WRI Brasil publicado em 2019, mostrando o papel crucial do Plano ABC e do Planaveg na adaptação climática.

O Plano ABC, RenovAgro e o Planaveg

Mas o que são essas políticas públicas cruciais para a adaptação da produção de alimentos no Brasil?

O Plano ABC – Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura – foi criado após o Brasil apresentar compromissos internacionais para redução de emissões, tendo como objetivo estimular a redução de emissões na agricultura. Ao longo do tempo, porém, o plano foi incorporando práticas agrícolas para adaptação.

Em 2023, o plano foi redesenhado, e sua linha de financiamento passou a se chamar RenovAgro (Programa para Financiamento a Sistema de Produção Agropecuário Sustentáveis), que incorpora os financiamentos de investimentos identificados com o objetivo de incentivo à adaptação à mudança do clima e baixa emissão de carbono na agropecuária.

O Plano ABC e o RenovAgro são políticas importantes para avançar na adaptação climática da agropecuária, mas o financiamento desses modelos ainda representa uma pequena fração de todos os recursos do Plano Safra. Nos últimos anos, os recursos destinados para o ABC variaram entre R$ 2,5 bilhões e R$ 5 bilhões. E para a safra atual, o RenovAgro destinou R$ 6,9 bilhões. Isso representou 1,9% do total do Plano Safra.

Já o Planaveg é o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. O plano é o principal instrumento da política de restauração do Brasil, que define, entre outras coisas, a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.

Na prática, essas duas políticas incentivam a adoção de modelos de baixa emissão de carbono na agricultura, que incluam árvores em seus sistemas e tornem o meio rural mais resiliente. Entre os modelos, estão:

– Recuperação de pastagens degradadas;
– Sistemas integrados (ex.: ILPF);
– Sistemas agroflorestais;
– Sistema plantio direto;
– Florestas plantadas;
– Recuperação da vegetação nativa.

As modalidades de agricultura e pecuária previstas por esses planos podem tornar as produções mais resilientes e sustentáveis, evitando impactos na produção e produzindo alimentos, emprego e renda. Num primeiro momento as ondas de calor provocam mortes de bovinos e redução da produção de leite. A implantação de árvores nesses sistemas permite minimizar esses eventos. No ano de 2023, foram observadas mortes de bovinos em função da ocorrência de ondas de calor. Essas mesmas arvores podem evitar perdas de produtividade dos pastos por geadas, que atualmente têm sido observadas na primavera.

Sem árvores, não haverá agricultura

Além dos importantes resultados sobre os sistemas integrados, o trabalho mostrou lacunas de conhecimento nessa área de pesquisa. Há atualmente um baixo volume de dados para os riscos de eventos climáticos extremos como ondas de calor, enxurradas e incêndios, sendo necessário pesquisar mais esses pontos. Também há falta de dados sobre os efeitos da recuperação de pastagens na adaptação ao clima, e é preciso intensificar a pesquisa focada em sistemas com árvores em todos os biomas. Por fim, o trabalho mostra a necessidade de gerar mais pesquisa para reduzir incertezas sobre danos que o clima extremo causa na produtividade.

Esse avanço nos dados científicos é crucial para preparar a agricultura brasileira para cenários de mudanças climáticas e garantir que o Brasil seja uma liderança global na produção sustentável de alimentos e mitigação das mudanças climáticas. No Brasil, 95% da agricultura depende da chuva, e mesmo pequenas mudanças nos padrões das precipitações e temperaturas podem gerar grandes danos e prejuízos.

Fonte: WRI Brasil