Por André Garcia
Apontada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) como um caminho possível para mitigar a crise climática, a economia circular também tem potencial na geração de trabalho e renda. Na agricultura, embora o cenário seja de crescimento da demanda e de lucratividade comprovada, a adoção da estratégia ainda esbarra, dentre outros desafios, na logística.
Um exemplo de como driblar o problema vem da Rota Local, que apoia a logística e a comercialização de frutas, verduras, laticínios e legumes produzidos por pequenos agricultores e agricultoras da região norte de Mato Grosso. Assim, do ponto de vista da economia circular, a iniciativa do Instituto Centro de Vida (ICV) fomenta a venda de produtos agroecológicos ou produzidos sob a premissa de redução de impactos ambientais.
A Rota Local funciona como uma “ponte” entre os pequenos agricultores e os grandes mercados da região. Semanalmente, os profissionais envolvidos levantam a oferta e a demanda de produtos, intermedeiam as vendas e prestam auxílio na busca, armazenamento e transporte dos alimentos. Desde a sua fundação, em janeiro de 2020, mais de R$ 3 milhões em produtos da agricultura familiar foram comercializados.
Atualmente, os produtos são retirados em propriedades nas cidades de Alta Floresta, Carlinda, Paranaíta, Nova Monte Verde e Nova Bandeirantes e comercializados em mercados de Alta Floresta. Por mês, é movimentada uma média de R$ 132 mil, recurso que fica inteiramente com os agricultores e com as associações e cooperativas da agricultura familiar da região.
Para o coordenador do programa de Negócios Sociais do ICV, Eduardo Darvin, o sucesso do projeto evidencia que muitas pessoas trabalhadoras do campo conseguem produzir em larga escala, mas encontram dificuldades para fazer com que os seus produtos cheguem até o mercado.
“Existe um mercado consumidor ávido por adquirir produtos que sejam da região. A Rota Local atingir esses R$ 3 milhões é a prova de que esse arranjo funciona, de que esse arranjo é necessário e de que ele precisa ganhar escala e atingir outras regiões da Amazônia. A gente sabe que a atuação da Rota é algo que complementa, que supre essa lacuna de produtos que não seriam comercializados”, disse.
Já o analista socioambiental do ICV Odair Fagundes, destaca que a Rota gera desenvolvimento com base no fortalecimento da economia local. Isso porque os agricultores e agricultoras têm a possibilidade de viver, comprar seus insumos e vender seus produtos em seu território.
“É diferente de quando os mercados compram seus produtos de um fornecedor na região Sul ou Sudeste do País. Disponibilizamos mais diversidade de produtos locais para o consumidor, mesmo que ainda não seja fácil de identificar nas gôndolas, é um ponto importante que planejamos construir em soluções futuras”.
Números
Em 2020, foram comercializados R$ 278,4 mil em produtos. Em 2021, outros R$ 414,9 mil foram movimentados. Já em 2023, foram R$ 984,2 mil de vendas, o que representa um aumento de 137% em relação ao ano anterior. Apesar de o ano ainda não ter acabado, em 2023 a Rota comercializou aproximadamente R$ 1,3 milhões.
“Esse volume vai majoritariamente para o bolso dos agricultores. Eles posteriormente repassam uma pequena porcentagem para as suas organizações. Atualmente, a Rota Local tenta implementar a sustentabilidade financeira por meio da doação voluntária de 2,5% do volume financeiro transacionado de cada agricultor ou organização, um percentual simbólico referente ao real custo das operações”, finalizou Odair.
A Rota nasceu por meio de uma iniciativa do projeto Redes Socioprodutivas, executado pelo ICV, que na época tinha financiamento do Fundo Amazônia/BNDES. Hoje, tem apoio financeiro da Fundação Walmart.
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