A Universidade de Brasília abriga projetos protagonistas em pesquisas sobre o Cerrado e para a formação de recursos humanos na área. Dois deles foram destaque em reportagem especial em vídeo da revista Ciência & Cultura, publicada em 2023 pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O material conta a história da estudante de Farmácia Adalgisa Batista e apresenta os trabalhos do Laboratório Professor José Elias de Paula, do Laboratório de Farmacognosia (FS), e do Laboratório de Compostos Bioativos e Nanobiotecnologia (LCBNano/IB). Nas unidades, estuda-se o potencial biotecnológico do bioma que ocupa 25% do território nacional.
Adalgisa Batista é moradora de Cidade Ocidental, no entorno do Distrito Federal, e cresceu em meio ao Cerrado, o que a tornou uma admiradora do ecossistema.
“Foi com o laboratório que eu descobri o quão rico é o Cerrado. No momento, estou trabalhando no Insetário, fazendo a disciplina de estágio e cuidando da criação dos mosquitos Aedes aegypti. Atualmente, a gente faz testes com repelentes e larvicidas para essa espécie”, explica.
Pesquisas
No LCBNano são realizados experimentos com óleos do Cerrado – como de pequi, buriti e andiroba –, com uso de nanotecnologia na manipulação de materiais minúsculos, em nanoescala.
“O que temos feito hoje são nanoestruturas, pacotinhos nanométricos. A gente sabe que óleo não mistura com água, mas colocando o óleo dentro desses ‘nanopacotinhos’, a gente faz a mágica, que é dispersar óleo em água. Com isso, a gente amplia as aplicações que esse óleo pode ter”,explica Graziella Joanitti, professora da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e coordenadora do LCBNano.
As pesquisas ali desenvolvidas levaram à descoberta dos efeitos do óleo do pequi contra células de câncer de mama. São indícios que podem levar ao tratamento da doença.
Biodiversidade em risco
O tesouro abrigado pelo Cerrado tem sido alvo de constantes ameaças. De agosto de 2022 a julho de 2023, o bioma perdeu 11.011 km² de vegetação nativa, impacto 3% maior em relação à temporada de 2021 a 2022 (10.688 km²), segundo o Prodes Cerrado. Somente nos cinco primeiros meses de 2023, o desmatamento foi 35% maior que no mesmo período de 2022, justamente em áreas de expansão agrícola.
“A agricultura, que é hoje o principal vetor de desmatamento do Cerrado, é a atividade econômica que mais depende da natureza. Depende de condições climáticas estáveis, depende de um solo saudável, depende de polinizadores, depende de controladores de pragas. Então a natureza é uma aliada da agricultura”, comenta a professora da UnB e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Mercedes Bustamante.
Ela ressalta o potencial escondido nas plantas nativas do Cerrado.
“Essa enorme quantidade de material genético é também uma fonte enorme de moléculas que podem ser exploradas pela indústria farmacêutica, para cosméticos, para benefícios alimentares. Então, temos um enorme potencial que simplesmente queimamos, derrubamos e substituímos por grandes monoculturas”, alerta.
Fonte: UnB