Por André Garcia
A escalada de prejuízos na safra brasileira 2023/2024, decorrente dos recordes de calor registrados nos últimos meses, não deixam dúvida sobre o estrago que o agravamento da crise climática pode causar ao agronegócio.
Como já mostrado pelo Gigante 163, principalmente no Centro-Oeste, coração agrícola do País, uma mudança nas dinâmicas produtivas e a adoção de medidas de adaptação para evitar perdas ainda maiores ésão fundamentais para a sobrevivência do setor.
Este alerta foi reforçado pelo pesquisador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Eduardo Assad, em entrevista ao Rural Notícias sobre os desafios climáticos que o agronegócio enfrenta.
Para ele, embora parte do setor já venha investindo em boas práticas, causa preocupação o descrédito observado entre muitos produtores. Segundo o especialista, pesquisas mostram que 40% deles não acreditam em mudança climática.
“Essa visão precisa ser mudada, pois ela está afetando o bolso dos produtores. Estamos avisando: é preciso plantar árvores, adotar sistemas integrados, combinar floresta com soja e braquiária. Se não fizermos isso, não conseguiremos sobreviver.”
Contudo, o que não faltam são exemplos de como a crise climática impacta a produtividade. Em Mato Grosso, a quebra estimada para a safra de soja, principal commodity brasileira, é de 21% neste ciclo, número atribuído à seca.
“Tudo isso pode ser minimizado. A gente tem hoje tecnologia que pode minimizar essas perdas, mas o pessoal tem que entender que o fenômeno está aí e que está batendo feio”, acrescentou.
Neste contexto, Assad lembra que os primeiros diagnósticos sobre os efeitos das mudanças climáticas no agro foram feitos há muito tempo. Desde então, a frequência de eventos climáticos extremos, como chuvas intensas e ondas de calor, vem crescendo.
“Tem muita gente que perdeu bastante e que agora está adotando critérios da agricultura regenerativa, que mantém a água no solo. Tem gente que perdeu 25% em áreas que não fez sistemas integrados e nas áreas que fez o sistema perdeu 10%.”
Sustentabilidade
Em relação à sustentabilidade, o especialista acredita que a maioria dos produtores já entendeu que não é um custo, mas um investimento. Ou seja, quando se investe no meio ambiente, o retorno financeiro pode ser maior.
Um exemplo citado por ele foi o da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A estratégia otimiza o uso da terra, eleva a produtividade em uma mesma área, usa melhor os insumos, diversifica a produção e gera mais renda e emprego.
“No início, eles são um pouco mais caros, mas nos anos seguintes, o risco de perda de safra é muito menor. Por isso, estamos insistindo: prestem atenção, às técnicas estão aí, usem as variedades mais adaptadas.”
Além disso, Eduardo citou o plantio direto como uma das oito soluções que podem ajudar a mitigar os prejuízos e destacou a importância da profundidade das raízes das plantas cultivadas.
“Plantemos de tal forma que as raízes cheguem a 40 ou 50 centímetros de profundidade. Se conseguirmos fazer isso, cenas como essa [de perdas nas lavouras] não vão acontecer”, concluiu.
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