Por André Garcia
A atividade humana foi a principal responsável pela seca que assolou a Bacia Amazônica em 2023, segundo cientistas do grupo World Weather Attribution (WWA). Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 24/1, eles apontaram que o El Niño teve uma influência muito menor sobre a estiagem registrada entre junho e novembro na região.
A combinação entre mudanças climáticas e alterações no uso da terra também elevou em 10 vezes a possibilidade de ocorrência de chuvas fracas e em 30 vezes a possibilidade de uma seca tão intensa na região. Isso também tem resultado na morte de árvores e na liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono, aquecendo ainda mais o planeta.
O pesquisador Ben Clarke, do Instituto Mudanças Climáticas e Meio Ambiente (Grantham) da Imperial College, de Londres, lembrou que, à medida em que a seca na Amazônia piorava, associações com o El Niño eram feitas.
“Embora o El Niño tenha levado a níveis ainda mais baixos de precipitação, nosso estudo mostra que as mudanças climáticas são o principal impulsionador da seca. Com cada fração de grau de aquecimento causada pela queima de combustíveis fósseis, o risco de seca na Amazônia continuará a aumentar, independentemente do El Niño”, disse.
Deste modo, constatou-se que o histórico de desmatamento para agricultura e expansão urbana piorou a situação. Isso porque a remoção e degradação da vegetação reduzem a capacidade do solo de reter água, tornando muitas localidades da Amazônia particularmente suscetíveis.
O estudo, conduzido por membros do WWA, inclui cientistas do Brasil, dos Países Baixos, do Reino Unido e dos Estados Unidos. Combinando observações meteorológicas e modelos climáticos, eles também descobriram que as chuvas de junho a novembro estão diminuindo à medida que o clima se aquece.
Redução de danos
Como noticiamos à época, em algumas áreas da região amazônica os rios atingiram seus níveis mais baixos em mais de 120 anos, impactando milhões de pessoas. Comunidades ribeirinhas foram as mais afetadas, com a seca resultando em falhas nas colheitas, problemas de saúde, perda de renda e escassez de alimentos e água potável.
Houve ainda prejuízos para o agronegócio e a seca contribuiu para a propagação de incêndios florestais e causou poluição do ar devido à fumaça. As altas temperaturas da água também foram associadas às mortes em massa da vida fluvial, incluindo as de mais de 150 botos cor-de-rosa ameaçados de extinção.
Em um mundo 1,2°C mais frio, sem mudanças climáticas causadas pelo homem, todo este cenário teria sido muito menos severo. Ou seja, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes da queima de petróleo, gás e carvão transformaram a seca em um evento devastador.
Considerando o clima atual, com 1,2°C de aquecimento global, eventos meteorológicos com chuvas muito baixas podem ser esperados aproximadamente a cada 100 anos. Já as secas semelhantes à registrada na Amazônia, com pouca chuva e alta evapotranspiração, podem acontecer a cada 50 anos.
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