HomeEcologiaEconomia

Mapa dos locais mais quentes do País traz alerta para o agronegócio

Mapa dos locais mais quentes do País traz alerta para o agronegócioCinco graus de elevação classificados como extremo. Foto: Cemaden

Queda no desmate reduz cobranças internacionais sobre commodieties brasileiras
Emissões de carbono dobraram na Amazônia depois de 2018
Soja avança na Amazônia, mas Cerrado ainda lidera área plantada no País

O cenário de seca e calor extremo que trouxe prejuízos à safra brasileira em 2023 não deve mudar nos próximos anos, não importando se o clima estará sob influência El Niño, La Niña ou neutro. A forte tendência de elevação da temperatura no Brasil é apontada por pesquisadores responsáveis pela criação de um mapa interativo que permite checar a quantas anda o aquecimento nas cidades brasileiras.

A ferramenta traz notícias preocupantes especialmente para os produtores rurais da região central. Municípios notórios por sua produção agropecuária já deixaram a meta do Acordo de Paris para trás.  No caso de Primavera do Leste, a temperatura ficou em 2,61° C, acima da média das máximas diárias. No caso de Rondonópolis, o aumento foi de impressionantes 3,73 C. Ainda em Mato Grosso, Poconé é um caso extremo: 4,46° C.

Os dados fazem parte de levantamento inédito do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), obtido com exclusividade pelo Globo, e confirmam uma tendência das últimas seis décadas.

Para identificar os lugares do Brasil que mais esquentaram, aqueles que tiveram as maiores anomalias de temperatura positiva, a cientista Ana Paula Cunha e sua equipe do Cemaden analisaram números de estações meteorológicas oficiais e de satélite de todos os 5.570 municípios brasileiros nos 12 meses de 2023. Na sequência, compararam cada mês com a climatologia para o respectivo período.

Os dados se referem à média das temperaturas máximas diárias e os municípios foram ranqueados pelas maiores anomalias de temperaturas. No geral, novembro e dezembro foram os meses mais quentes de 2023.

Cada grau importa

Quando o termômetro sobe de 36°C para 37°C não parece muito, mas esse 1 grau de diferença é suficiente para passar da saúde normal para a febre, por exemplo. Com as plantas não é diferente. Acima de 28°C, a soja, conhecida por ser resistente ao calor, começa a sofrer. Um grau Celsius a mais também é suficiente para multiplicar o risco de incêndio em áreas afetadas pela seca.

Cinco graus de elevação são o que climatologistas classificam como extremo.

A receita para o calor extremo combina mudanças climáticas globais com características locais. Isso pode ser fatal para regiões como o Centro Oeste, onde há grandes áreas desmatadas, solo degradado e grande distância do oceano, normalmente uma fonte de umidade e ventos mais frescos.

Recordes pontuais de temperatura não indicam tendências, observa Cunha. Mas lugares que registram esses recordes são tórridos.

“Os fatores que causam o calor seguem presentes. O El Niño aqueceu o Brasil, mas é transitório. O que fez e faz diferença é o aquecimento global somado às condições locais. É uma região semiárida, que também está ficando gradativamente mais seca,” afirma ela.

Calor e seca andam juntos

De acordo com a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá, calor e seca se alimentam. Assim, a degradação do solo e da vegetação abre caminho para o inferno. É tudo uma questão de equilíbrio energético, já que a energia do sistema terrestre precisa ir para algum lugar. E há cada vez mais energia, à medida que a Terra esquenta.

Quando há água na superfície, seja no solo, na vegetação ou em cursos d’água, parte significativa dessa energia é empregada na evaporação. Assim, não esquenta tanto. E é por isso que o desmatamento contribuiu para a elevação da temperatura.

Quando não há água no solo, mais energia fica disponível para aquecer o ar. Quanto mais seco, mais calor. E quanto mais calor, maior a seca, diz Marcelo Seluchi, diretor de Operações do Cemaden ao explicar como a chuva regula a temperatura. Isso explica que lugares muito quentes, mas com ampla cobertura florestal, como a Amazônia, não tiveram anomalias tão significativas.

LEIA MAIS:

Extremos climáticos já prejudicam plantio de soja

Extremos climáticos geram perdas de R$ 287 bi no agro brasileiro

El Niño deve mudar dinâmicas do agro de forma permanente

Extremos climáticos: produtores de boas práticas evitam prejuízos

Produtores de soja se preocupam agora com ‘qualidade da chuva’

Aprosoja estima quebra de 21% na produção de soja no Mato Grosso

A depender do Estado, quebra vai de 8% a 25% na safra de soja 2023/24

Seca faz USDA reduzir estimativa de produção de soja do Brasil em 2,16%

Mapa altera calendário de plantio da soja em função do clima

Por causa da seca, soja deve ser replantada em 4,19% da área em MT