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Degradação na Amazônia avança 3 vezes mais que desmatamento

Degradação na Amazônia avança 3 vezes mais que desmatamentoDegradação já acumula quase 163 mil km². Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Por André Garcia

A degradação avança rapidamente na Floresta Amazônica e já acumula alertas para quase 163 mil km². O número, divulgado no sábado, 6/3, é quase três vezes maior do que os 58,5 km² referentes aos alertas de desmatamento registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até março deste ano.

Na contramão da redução dos alertas de desmatamento, os avisos de degradação abrangeram mais 20,4 mil km² do bioma entre março de 2023 e março de 2024, alta de 13% em relação aos 18 mil km² registrados no mesmo período do ano passado.

Diferente do desmatamento, que faz com que a floresta deixe de existir e dê lugar a outras paisagens como o pasto, a degradação transforma o bioma por dentro: em longo prazo, árvores maiores dão lugar a vegetação com estruturas menores, há menos biomassa e menor capacidade de cumprir com os serviços ecossistêmicos.

De acordo com o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), David Lapola, os números podem ser ainda maiores, considerando a seca que atingiu a região amazônica em 2023.

“É bem possível que no ano que passou tenha havido um aumento sensível de degradação, principalmente devido à seca, porque tivemos um El Niño, relativamente severo, e teve redução bem drástica dos níveis dos rios, principalmente na Amazônia Central. O correto seria a gente ter um sistema contínuo de acompanhamento”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Dinâmica da devastação

O pesquisador explica que ambos os fenômenos decorrem de perturbações que podem ser causadas tanto pela ação humana, como fogo, efeito de borda (florestas limítrofes de áreas degradadas) e corte seletivo de madeira, como pela seca, que pode ser natural ou consequência da mudança climática causada pelo homem.

No caso da degração, que avança mais rápido, as consequências incluem menor capacidade de reter o CO2, e interferência no ciclo hidrológico com menos chuvas e aumento da temperatura. Além disso, ela representa uma ameaça grave ao cumprimento das metas brasileiras estabelecidas em acordos internacionais para a manutenção da estabilidade climática.

Ranking

Vice -líder do ranking nacional, Mato Grosso concentra 5.479 km² em área de alertas de degradação, atrás do Pará, com 8.232 km², e à frente de Roraima, com 2.586 km² registrados entre 2023 e 2024. No estado, os municípios de Colniza, Nova Maringá e Marcelândia encabeçam a lista, com 442 km², 396 km² e 332 km², respectivamente.

Ranking nacional dos municípios com maior área de degradação na Amazônia. Credito: Inpe

Monitoramento

Atualmente, o governo federal apoia suas políticas públicas principalmente nos dados gerados por duas ferramentas: o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), com alertas diários, mas com menor precisão.

Lapola, que coordenou o estudo The drivers and impacts of Amazon forest degradation, publicado na revista Science em 2023, diz que, embora esse suporte seja efetivo para enfrentar o desmatamento, é ineficaz em alcançar todos os fatores que causam a degradação, o que reforça a possibilidade que os dados sejam subestimados.

O pesquisador afirma ainda que distúrbios como fogo e corte seletivo de árvores são mais observáveis por imagens de satélite, mas o efeito de borda, por exemplo, é mais complexo e precisaria de outras metodologias de monitoramento.

“Podemos observar os cálculos e entender que determinada área é borda, mas tem que ter um cálculo de quantos anos tem aquela borda, porque quanto mais velha, vai perdendo mais carbono. As árvores vão morrendo lentamente, não é um processo instantâneo”, afirma.

Políticas públicas

Segundo o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), André Lima, o assunto é debatido pelo governo federal e que a degradação ambiental está inserida nos programas de enfrentamento ao desmatamento.

“Tem vários municípios que entraram na lista definida este ano, mas não por conta do desmatamento. Entraram por degradação, portanto, passarão a ser foco de maior intensidade de fiscalização e também de ações relevantes e incentivos positivos”, afirma ao citar o Programa União com Municípios pela Redução de Desmatamento e Incêndios Florestais.

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