Em um cenário de instabilidade climática, o futuro do agronegócio brasileiro terá sua sazonalidade intensificada e precisará conviver com crises mais frequentes, o que trará ainda mais impactos ao sistema de crédito ao agricultor. O resultado disso será o aumento da inadimplência ao longo das próximas décadas.
É o que mostra um estudo bancado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que simulou os efeitos futuros da mudança climática sobre as finanças do agronegócio no Brasil. Publicado na segunda-feira, 8/4, pela revista Academia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS), o trabalho indica que o risco para os investimentos será maior.
Segundo o Um Só Planeta, nas simulações feitas para o período entre 2040 e 2070, houve uma forte correlação entre crises locais no setor e variáveis climáticas de temperatura e chuva, mas sobretudo a segunda delas.
“Encontramos maior variação de lucro e receita (incluindo um número maior de anos ruins e resultados piores) e maior inadimplência em empréstimos agrícolas em meados do século”, diz a estudo
Realizada pela Universidade da Califórnia em San Diego em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa, liderada pela cientista Jennifer Burney e coordenada pelo pesquisador Alexandre Gori Maia, se baseou em dados do IBGE sobre a produtividade, receita e empréstimos no estado da Bahia de 1990 a 2017.
O estado foi escolhido porque representa uma espécie de microcosmo no agronegócio brasileiro, apesar de não ser o maior em receita. Cruzando estes dados com informações históricas do clima e projeções futuras , os cientistas criaram um modelo preditivo e o aplicaram sobre cenários mais prováveis do aquecimento global ao longo do século.
Problemas e soluções
Além de projetar as dificuldades futuras, os cientistas tentaram identificar os pontos mais sensíveis do sistema de financiamento e produção do setor, buscando possíveis remédios para a situação.
A melhor forma de os produtores conseguirem mais resiliência, dizem os pesquisadores, inclui uma reforma dos serviços financeiros e o fortalecimento de instituições de resseguros para aguentarem mais turbulências. Outro ponto crucial, dizem, é se antecipar a problemas de acesso à água, um insumo vital para a agropecuária que deve sofrer grande impacto com a mudança climática.
Burney e colegas notam que, apesar das limitações que existem hoje para acessar dados sensíveis como empréstimos, os dados que se tornam públicos já são suficientes para ver uma correlação clara entre um agravamento da mudança climática e a inadimplência.
“As mudanças climáticas no Brasil devem ter impactos negativos que repercutem em todo o setor agrícola – desde a receita, passando pelo lucro e afetando o desempenho do pagamento de empréstimos dos mutuários agrícolas”, diz a conclusão do trabalho.
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