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Desmate causado por pecuarista pode afetar outras fazendas de MT

Desmate causado por pecuarista pode afetar outras fazendas de MTInvestigações tiveram início após denúncias anônimas. Foto: PJC/MT

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Por André Garcia

Responsável pelo maior dano ambiental já registrado em Mato Grosso, o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, utilizou irregularmente 25 tipos de agrotóxicos para aniquilar a vegetação do Pantanal e transformá-la em pasto. Em três anos, o desmate químico atingiu uma área de 81 mil hectares na região de Barão de Melgaço, onde ele possui 11 fazendas.

Na última semana, uma operação da Polícia Judiciária Civil (PJC) mostrou que o uso reiterado dos produtos, agravado pela aplicação aerea, resultou na morte de árvores e na contaminação do solo e da água, colocando em risco a vida de seres humanos, animais e a produção em fazendas vizinhas.

As próprias características do Pantanal também potencializam o cenário de destruição, já que por ser uma zona alagada, as substâncias são conduzidas pelas águas, chegando aos lençóis freáticos e rios. No solo, o impacto é observado na qualidade e a fertilidade.

Foto: PJC

No ano passado, em buscas pela Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema), amostras de plantas e sedimentos revelaram a presença dos herbicidas imazamox, picloram; 2,4-D e fluroxipir, cujas partículas podem ter dispersado com o e chegado a outras áreas.

Segundo a PJC, que entre os dias 8 e 12 de abril, realizou a segunda fase da Operação Cordilheira e cumpriu ordens judiciais de arresto, sequestro e indisponibilidade de bens de Claudecy, ele era investigado desde 2022 pelo uso dos agrotóxicos para a “limpeza de vegetação nativa”.

“As ações de repressão às condutas se tornaram urgentes, uma vez que o uso de herbicidas e, principalmente, a pulverização aérea contamina a água, os peixes e o gado que é criado no pasto, trazendo risco à saúde humana e comprometendo a sobrevivências dessas comunidades”, diz a delegada titular da Dema, Liliane Mutura.

Agente laranja

Ao Fantástico, o professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), explicou que a substância 2,4-D é a mesma presente na composição do chamado agente laranja, usado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Com ele, os americanos desmatavam florestas para impedir que soldados inimigos se escondessem.

“Ele é bastante estável e é carregado pelo vento a 20, 30 quilômetros longe, vai atingir outras cidades, outros sítios e outras áreas de plantação. Vai muito além do que se imagina”, afirma Pignati.

Foto: PJC/MT

Reparação e sanções

Alvo de decisões judiciais que resultaram na indisponibilidade das propriedades, na apreensão judicial de animais e no embargo das áreas afetadas, Claudecy foi multado em mais de R$ 2,8 bilhões, a maior sanção administrativa já aplicada pela Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) a um único infrator.

O custo da reparação dos danos ambientais, somado ao valor das multas cominadas pelo órgão ambiental, aponta o prejuízo ao infrator de mais de R$ 5,2 bilhões. A soma é superior ao valor venal de todas as propriedades pertencentes ao investigado.

Operação Cordilheira

Ao longo das investigações, foram foram levantadas informações fiscais, financeiras, georreferenciadas e de campo. Além disso, com auxílio de imagens de satélite, mapeou os imóveis rurais, constatando as ações de desmatamento, degradação ambiental e poluição por uso irregular de defensivos agrícolas.

Foto: PJC/MT

A análise de dados fiscais mostrou que entre 1º de fevereiro de 2021 e 8 de fevereiro de 2022, o pecuarista gastou mais de R$ 9,5 milhões em agrotóxicos. Durante buscas realizadas em março de 2023, foram encontradas diversas embalagens dos produtos químicos e agrotóxicos, confirmando a autoria de seus crimes.

“O nome da operação refere-se à vegetação pantaneira, que é caracterizada por pequenas faixas de terrenos não inundáveis, com 1 a 3 metros acima do relevo adjacente, com vegetação de cerrado, cerradão ou mata. Era assim que a área objeto de investigação deveria estar. No entanto, encontra-se totalmente seca e desmatada em um período de chuvas na região”, informou a PJC.

O trabalho teve início a partir de denúncias anônimas e também envolveu o Ministério Público (MPMT), a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), Indea e Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer). O inquérito está em fase final de conclusão.

 

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