Entre abril do ano passado e o deste ano, 90 retroescavadeiras foram confiscadas pelo Ibama em terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia, com valor estimado em R$41,6 milhões. A empresa sul-coreana Hyundai Construction Equipment foi a campeã dentre as apreendidas, com pelo menos 26 retroescavadeiras. Em segundo lugar ficou a norte-americana Caterpillar, com 13 máquinas detidas no período. As informações são da Repórter Brasil.
O maquinário acelera o desmatamento, já que uma escavadeira realiza em 24 horas o mesmo trabalho que três homens levariam cerca de 40 dias para executar. Nem sempre as marcas são anotadas durante a apreensão, mas a identificação ajuda quem deseja preservar a região.
“As máquinas da Hyundai não servem só para os fazendeiros e para a construção civil, servem para destruir a floresta”, alertou Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu e membro da Aliança dos Povos Contra o Garimpo – uma articulação dos indígenas Kayapó, Munduruku e Yanomami para combater a atividade ilegal.
Em abril de 2023, ele foi foi até a Coreia do Sul cobrar a empresa após um relatório do Greenpeace flagrar 75 máquinas da multinacional nas terras indígenas Kayapó, Munduruku e Yanomami. Um ano depois, o maquinário segue ativo na destruição da floresta.
Outras multinacionais foram flagradas abastecendo o garimpo ilegal com maquinário pesado. A CNH, dona da New Holland e da Case, ocupou terceiro lugar com oito apreensões, bem como a chinesa como a XCMG. Também da China, Sany e LiuGong empataram na quinta posição com seis máquinas cada.
“O comércio dessas máquinas é livre, não tem nenhum tipo de restrição. Não tem controle nenhum e isso é incompatível com a importância que exercem nas atividades ilegais na Amazônia”, alertou Felipe Finger, coordenador do Grupo Especial de Fiscalização do Ibama.
Todas as empresas foram procuradas pela reportagem. A Hyundai alegou que vem colaborando com as autoridades públicas competentes e fornecendo informações e documentos que lhe são solicitados para auxiliar as investigações e identificar os supostos garimpeiros ilegais que estejam utilizando suas máquinas e equipamentos na região amazônica. Volvo, Komatsu, Link Belt Excavators, John Deere e JBC responderam que a responsabilidade das atividades desempenhadas com as máquinas é do cliente depois de adquirir o equipamento. As outras não responderam. A íntegra das respostas aqui.
MT tem mais máquinas apreendidas
A terra indígena que teve mais máquinas apreendidas foi a Sararé,, que fica na fronteira entre Mato Grosso e Rondônia. Em 2023 foram 29 escavadeiras apreendidas, das quais 11 eram da Hyundai. A facilidade de acesso por via terrestre na TI Sararé explica a explosão do garimpo na região. Levar escavadeiras para dentro das terras indígenas Munduruku e Yanomami, por exemplo, demanda uma complexa logística de transporte pelo rio e via aérea.
O custo das máquinas
Uma escavadeira nova custa entre R$ 800 mil e R$ 1,5 milhão, dependendo da marca e modelo. Já uma usada não sai menos do que R$200 mil, o que mostra o poder por trás da atividade ilegal. Mas o cenário pode ser diferente. Já existe, atualmente, programas como o Código de Consciência que, inserido no computador de bordo de uma máquina, emite um alerta ou mesmo desliga o motor do veículo quando ele se aproxima de uma área protegida.
“Partimos de um insight muito simples: se nós não podemos impedir os humanos de destruírem as florestas, podemos impedir as máquinas que o fazem”, explicou Hugo Veiga, diretor criativo global da AKQA, empresa que desenvolveu o software.