Por André Garcia
O inverno começou oficialmente no dia 20 de junho. Mas, neste ano, o período de seca no Centro-Oeste foi antecipado, derrubando a produtividade em muitas lavouras e causando uma explosão no número de queimadas. Em Mato Grosso do Sul, o estado mais afetado, a safrinha de milho será 20% menor que no último ciclo, enquanto os incêndios florestais aumentaram em 372% nos seis primeiros meses de 2024.
A situação não deve melhorar nos próximos meses, uma vez que a chuva só deve chegar em meados de setembro, quando começa a primavera. E ainda assim, de forma irregular. Foi o que explicou ao Gigante 163 a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Andrea Ramos, ao destacar que para a próxima estação a tendência é que os índices continuem abaixo da média.
“A previsão trimestral, que envolve os meses de julho, agosto e setembro, mostra que a tendência para todo o Centro-Oeste, onde a questão da estiagem já é mais intensa, é que as chuvas fiquem abaixo da média. O indicativo é esse, mas a escala será acompanhada com a evolução gradual do La Niña.”
De acordo com ela, a redução das chuvas em grande parte do País nesta época do ano é normal e acontece devido à persistência de massas de ar seco, que ocasiona formação de geadas nas regiões Sul, Sudeste e em Mato Grosso do Sul; queda de neve nas áreas serranas e planaltos da Região Sul e episódios de friagem em Mato Grosso, Rondônia, Acre e no sul do Amazonas.
“Para os próximos dias, a previsão é que uma frente continental de ar frio polar chegue ao Mato Grosso do Sul, o que traz uma pequena chance de chuva nas regiões Sul e Oeste do Estado, além de uma melhora na umidade.Para Mato Grosso, a temperatura segue em declínio até o domingo e volta ao normal já na segunda-feira”, pontua.
Safrinha de milho
A notícia traz um pouco de esperança para os produtores de milho do Sul de Mato Grosso do Sul, onde as condições climáticas são mais severas e perceptíveis. Segundo o Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS), nesta parte do Estado cerca de 50% das lavouras apresentam condições ruins ou regulares. Além disso, o estresse hídrico afetou uma área total de 785 mil hectares.
La Niña
Vale destacar que as projeções do Inmet foram feitas em uma fase considerada pelos meteorologistas como neutra, ou seja, sem influência do El Niño ou do La Niña. Conforme a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), o La Niña deve começar a atuar a partir de julho, com chance de se intensificar em até 80% a partir de setembro.
“Enquanto o El Niño causa seca nas regiões Norte e Nordeste e excesso de chuva no Sul, como vimos neste ano, o La Niña faz o contrário. Para o Centro-Oeste, seu principal efeito é na temperatura, que deve ficar mais amena”, completa Andrea.
Em março, o Centro Nacional de Monitoramento e Desastres Naturais (Cemaden) já havia emitido nota técnica sobre os possíveis impactos do fenômeno, incluindo a escassez de precipitações na parte Sul do Pantanal, que encerrou sua estação chuvosa, em junho, em situação de seca.
LEIA MAIS:
El Niño 2023/2024 dá sinais de terminar, diz OMM
Seca deve reduzir em quase 20% a produção de milho safrinha em MS
Fogo no Pantanal já ameaça cidades e MS decreta emergência
Força Nacional chega ao Pantanal para reforçar combate ao fogo
“Queima controlada” no Pantanal será tratada como crime
Pantanal vive ‘uma das piores situações já vistas’, diz ministra
Bioma mais afetado pelo fogo, Pantanal já queimou 9 milhões de ha
Pantanal: seca e La Niña podem trazer tragédia pior que a de 2020