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Aceleração no desmate levou a explosão de queimadas no Pantanal

Aceleração no desmate levou a explosão de queimadas no PantanalCorumbá, em MS, e Cáceres, em MT, enfrentam as piores situações. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

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Por André Garcia

Mais seco do que nunca, o Pantanal passa por um de seus piores momentos. A explosão de 2.018% nos registros de foco de calor resulta, em parte, das mudanças climáticas e do El Niño, mas é potencializada pelo desmatamento, que coloca o bioma em um ciclo de degradação ambiental.

Entre agosto e dezembro de 2023, o desmate acelerou na região, segundo o Governo Federal, que contabilizou perda de 761 km² de vegetação. Neste ano, entre janeiro e junho, os focos de calor chegaram a 3.538, conforme o programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A relação entre as duas formas de devastação foi destacada pela titular do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), Marina Silva, durante apresentação dos dados do Deter, na quarta-feira, 3/5. O sistema do Inpe, que até então media a área de alertas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, passou a considerar também os números do Pantanal.

“Estamos trabalhando por um pacto pelo Cerrado e a mesma coisa terá que ser feita em relação ao Pantanal. Temos a lista dos municípios que mais desmatam, vamos fazer também a lista dos municípios que têm queimadas, porque há uma correlação muito forte entre desmatamento e queimada”, disse Marina.

Ministras Marina Silva e Luciana Santos (MCTI) em entrevista coletiva para divulgação de dados do Inpe. Foto: MMA

Como já mostramos, o desmatamento reduz a capacidade da vegetação de reter água, aumentando a vulnerabilidade da região a incêndios. Mais propensas a secas severas, estas áreas se tornam prato cheio para as chamas. Exemplo disso é o que ocorre em Corumbá (425km de Campo Grande- MS), onde os incêndios já ameaçam a cidade.

Líder do ranking nacional de focos de incêndio com 2.548 registros, o município tem a pior situação entre os que fazem parte do Pantanal. De acordo com Marina, lá, o desmatamento cresceu mais de 50%, resultando em alta nas queimadas na mesma proporção.

“Nesse momento [Corumbá] responde por 50% dos incêndios que estão acontecendo no Pantanal”, pontuou durante a coletiva.

Isso ocorre porque o desmate fragmenta a vegetação, aumenta a disponibilidade de material combustível no solo e conecta áreas secas. Dinâmica observada também do lado mato-grossense do bioma, em Cáceres (420 km de Cuiabá), o segundo município com mais focos no Pantanal e sexto que mais queima no Brasil, com 479 ocorrências.

Crédito: Inpe

O geógrafo e pesquisador do Instituto Gaia Pantanal, Clóvis Vailant, que atua no combate às chamas na região, contou ao Gigante 163 sobre as dificuldades enfrentadas em um cenário de crise hídrica. De acordo com ele, mesmo os aceiros, técnica que usa o fogo para impedir o avanço dos incêndios, ficou inviabilizada.

“Tivemos problemas com aceiros por conta dos ventos que estão atípicos e jogam a brasa a muitos metros de distância. Neste ano, vimos o fogo pular no Rio Paraguai. Labaredas absurdas criaram redemoinhos de fogo que foram lançados para o outro lado do rio, a cerca de 80 metros”, afirmou.

Aceleração no desmatamento

Para o secretário Executivo do MMA, João Paulo Capobianco, um dos fatores que explicam o aumento no desmate é a suspensão da emissão de licenças de desmatamento, anunciada pelo governo sul-mato-grossense em agosto do ano passado. Ele também cita a criação de lei específica para o bioma, em parceria com o Ministério.

“De agosto a dezembro houve uma enorme aceleração do desmatamento e isso nós entendemos que seja decorrência da percepção dos atores locais que haveria uma mudança na lei. E aqueles que tinham autorizações ainda em vigor, porque o decreto não pôde cancelar autorizações anteriores, aceleraram o processo de desmatamento.”

Crédito: Inpe

Nos seis primeiros meses de 2024 a área desmatada foi de 367,29 km, número que, para Capobianco, seguirá tendência de queda no segundo semestre. Vale destacar que não há dados sobre o primeiro semestre de 2023 para comparação, uma vez que o Deter passou a contabilizar os números no Pantanal somente em agosto do ano passado.

“Ao diminuirmos o desmatamento, com certeza diminuímos os focos de queimada. Se tivéssemos continuado na mesma trajetória perversa de enfraquecimento das instituições de combate e fiscalização nos biomas brasileiros, estaríamos em uma situação incomparavelmente pior”, concluiu Marina.

 

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