Por André Garcia
Após uma semana de trégua, a escala da destruição causada pelo fogo voltou a acelerar no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o aumento da temperatura, a queda da umidade do ar e as rajadas de vento que chegam a 24 km/h, as chamas vêm se espalhando e multiplicando o trabalho dos brigadistas, exigindo assim um contingente cada vez maior de pessoas atuando na região.
De acordo com boletim do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), somente entre os dias 15 e 21 de julho, a área queimada no bioma cresceu 16.475 hectares, podendo totalizar 794.650 hectares desde o início do ano até agora. O documento foi divulgado nesta terça-feira, 23/7, mesma data em que o governo Sul-mato-grossense anunciou a chegada de cerca de 40 bombeiros militares vindos de Goiás, Paraná e São Paulo.
Para os próximos dias, a expectativa é que os estados da Paraíba, Sergipe, Rondônia e Pará também enviem combatentes para a região. Os profissionais encontrarão um território exposto em quase 100% ao risco extremo de fogo, conforme a atualização semanal do Ministério.
Em Mato Grosso, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMMT) abriu, na segunda-feira, 22/7, processo seletivo para a contratação de 150 brigadistas florestais temporários. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 26 de julho, presencialmente, nas unidades do CBMMT e outros órgãos relacionados no edital, que prevê a publicação do resultado e a convocação para assinatura dos contratos para o dia 15 de agosto.
“O aumento no efetivo em campo reforça a atividade dos militares, auxiliando-os em algumas funções acessórias durante o combate ao fogo, como manutenção de equipamentos ou, até mesmo, condução de viaturas. Assim, conseguimos usar nossa tropa para ações mais complexas e estratégicas, um combate mais especializado”, explica o comandante-geral do CBMMT, coronel BM Flávio Glêdson Vieira Bezerra.
Do lado mato-grossense, as equipes combatem seis incêndios florestais nesta quarta-feira, 24/7. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), atuam no Pantanal 32 bombeiros, oito funcionários da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra), cinco membros da Defesa Civil do Estado e um integrante do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp).
Neste momento, Mato Grosso do Sul registra o mesmo número de incêndios, mas lá, a situação é mais grave e se estende por mais tempo. Há 114 dias 92 bombeiros atuam na Operação Pantanal, executando dia e noite ações por terra, água e ar. É o caso da tenente-coronel Tatiane Inoue, diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros, que descreve parte do trabalho.
“Na parte de logística, devido à dificuldade de acesso no terreno, providenciamos alimentação, água e material de higiene, para que os militares tenham condições de trabalho, principalmente nas bases avançadas, pois as dificuldades são extremas. A gente organiza os materiais enviados aos locais onde as guarnições ficam preparadas para combater os incêndios”, disse.
Além dos efetivos estaduais, o boletim do MMA informa que há 700 profissionais do Governo Federal atuando na região, incluindo Polícia Federal, Forças Armadas, Força Nacional de Segurança Pública, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Aviões, viaturas e embarcações foram disponibilizados em mais de 10 bases criadas no bioma.
Mobilização
Os trabalhos têm o apoio de brigadas comunitárias voluntárias, formadas por fazendeiros, comunidades indígenas e de ribeirinhos. Mesmo quando não atuam diretamente no combate, os pantaneiros ajudam os bombeiros abrindo caminho com tratores, britadeiras e maquinários agrícolas, como ocorreu na região do Nabileque (MS) no início do mês, onde a mobilização levantou obstáculos naturais que evitaram a destruição de pontes.
“Sem eles não teríamos o que fazer. Ajudamos no que for possível, com tratores e outras máquinas”, afirmou João Luiz, trabalhador rural que há 10 anos vive no Pantanal.
Conforme a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), hoje, cinco Brigadas Federais estão instaladas em Mato Grosso do Sul nas Terras Indígenas (BRIFs-I) Terena 1, 2 e 3 (TI Limão Verde, TI Taunay/Ipegue e TI Cachoeirinha) e Kadiwéu 1 e 2 (TI Kadiwéu). Além destas, também será implementada em breve a BRIFs-I Guató na TI Baía dos Guató, em Mato Grosso.
Uso do fogo
Na semana passada, ao anunciar crédito extraordinário de R$ 137,6 milhões para mitigação dos efeitos da estiagem e combate às queimadas, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet adiantou que o problema agora não é a falta de efetivo, mas a conscientização sobre o uso do fogo no bioma, que está proibido até o fim do ano.
“Não é uma questão de contratar mais mil ou cinco mil brigadistas. O que a gente não pode e a legislação não permite é colocar as Forças Armadas, Polícia Federal e mesmo os brigadistas dentro das propriedades que são privadas. A gente não pode entrar porteira adentro, a não ser depois que acontece o fogo”, pontuou.
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