Os defensores da derrubada do chamado Portão do Inferno, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, que alegam a necessidade de prevenir desmoronamentos e proteger os transeuntes, ignoram os riscos que essa medida representa para a unidade de conservação e para outras semelhantes no Brasil. As informações são do site o eco.
Após intensa pressão política e justificativas controversas sobre a construção da estrada em área de fragilidade geológica, o governo de Mato Grosso, após desistir da concessão dos serviços públicos do parque, agora celebra as obras como uma vitória, mesmo que a solução ideal fosse a adoção de medidas preventivas no local.
A notícia da licença foi antecipada pela secretária de Meio Ambiente do Mato Grosso, Mauren Lazzaretti, no dia 17/6, frisando em sua fala que o ICMBio e o Iphan também estavam de acordo com a proposta do governo. Porém, o parecer técnico do ICMBio elenca implicações gravíssimas para a sociedade e para a unidade de conservação, que requerem muito mais atenção, cuidado e rigor antes da expedição de qualquer autorização para as obras.
O parecer do ICMBio considera que as obras propostas pelo governo de Mato Grosso podem inviabilizar o funcionamento do parque nacional e reitera, em diversos trechos, que os técnicos só puderam analisar uma única opção de intervenção, a demolição do morro. Ou seja, não houve apresentação de alternativas para o local.
Está previsto, de acordo com o parecer do órgão federal, o fechamento da rodovia entre as 7h30 e 16h30, que corresponde ao horário de funcionamento da unidade de conservação, impactando as atividades cotidianas de gestão, e impedindo também o acesso ao parque nacional por visitantes e operadores de turismo. A população terá dificuldades para utilizar serviços públicos essenciais e emergências. Outros efeitos analisados tecnicamente são risco elevado de contaminação por produtos derivados de petróleo no lençol freático e da drenagem superficial, risco às espécies locais e ao abastecimento humano.
O risco de desmoronamento por uso de explosivos e de equipamentos e máquinas pesadas traz alto potencial para a queda de blocos que formam o painel de gravuras do Sítio Arqueológico Portão do Inferno, localizado a 15 metros do local das obras. A proteção desses sítios é um dos objetivos da unidade de conservação, de acordo com seu decreto de criação. Outro problema apontado foi a ausência de avaliação da existência de outros sítios arqueológicos nas localidades adjacentes à obra, além do risco de depreciação dos sítios Salgadeira e Mata Fria.