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Voluntários minimizam sofrimento de animais no Pantanal

Voluntários minimizam sofrimento de animais no PantanalGrupo monitora alimentação dos animais por meio de câmeras. Foto: Governo de MS

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Por André Garcia

Enquanto brigadistas, bombeiros militares e voluntários combatem as chamas, a luta de milhares de animais que habitam o Pantanal é pela sobrevivência.  Em pouco mais de 100 dias, os incêndios florestais transformaram em carvão mais de 795 mil hectares de vegetação que servia como abrigo e alimentação para onças, jacarés, macacos e araras.

Segundo boletim do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), de janeiro até agora, 548 animais foram salvos. O número de resgatados, contudo, é ínfimo diante das perdas na região, onde os incêndios já são considerados piores que os de 2020, quando o fogo causou a morte direta de cerca de 17 milhões de vertebrados.

Coordenadora operacional do Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal de Mato Grosso do Sul (Gretap-MS), a bióloga e veterinária Paula Helena Santa Rita explicou à Agência Brasil que as consequências de mais uma temporada de fogo sem controle estão sendo “devastadoras”.

“Para a fauna, as consequências são as piores possíveis. Vão da morte direta de animais, por incineração e inalação de fumaça e fuligem, a mortes posteriores, por falta de alimentos e outras questões, podendo, inclusive, no limite, interferir na questão da reprodução das espécies, caso haja a perda de um número significativo de indivíduos.”

No cemitério a céu aberto, ela se junta a outros profissionais que, voluntariamente, se dedicam a minimizar o sofrimento dos bichos que sobrevivem. O trabalho também inclui o afugentamento dos bichos de locais de risco e o fornecimento de alimentação básica em áreas atingidas.

Foto: Governo de Mato Grosso do Sul

O biólogo Wener Hugo Arruda Moreno, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que faz parte do Gretap, lembra a situação de uma família de macacos bugio, encontrada graças ao chamado de uma ribeirinha informando que a fêmea estaria com queimaduras.

“Ela não tinha queimaduras. Era seu filhote, recém-nascido, bastante magro e debilitado, que estava se segurando nela. Além deles, havia um macho. Provavelmente, os três foram expulsos de seu grupo devido à escassez de recursos. Nestes casos, nossa estratégia é monitorar os animais. Administramos um pouco de frutas, um aporte nutricional básico, e instalamos câmeras na área para podermos observar se o bando vai aceitar os alimentos”, contou à Agência Brasil.

Segundo o secretário-executivo de Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Arthur Falcette, este aporte nutricional garante que os bichos continuem se alimentando até que seu território se regenere e toda a dinâmica do ecossistema seja retomada.

Além disso, para garantir a fuga para áreas seguras a equipe acompanha a progressão do fogo e cria rotas de saída. Uma das estratégias para isso é a abertura de aceiros, que consistem em faixas nas quais a vegetação é removida propositalmente a fim de isolar os incêndios. Neste caso, a técnica cria um corredor para a passagem dos animais.

“Verificamos o ambiente, e vemos se os animais estão retornando às áreas debilitados, ou se as espécies que lá permanecem têm refúgios para obter os recursos necessários à sobrevivência. Temos observado muitas carcaças de répteis, pequenos roedores e anfíbios, mas ainda estamos começando o processo de contagem”, diz Falcette.

Criação de Aceiro que servirá como corredor de fuga. Foto: Governo de Mato Grosso do Sul

Gretap

Junto a representantes de órgãos, entidades e instituições sul-mato-grossenses e federais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Grupo foi instituído em abril de 2021, na esteira dos incêndios que se seguiram à grande seca de 2019 e 2020.

Pela experiência dos integrantes, em maio deste ano, parte do Gretap viajou ao Rio Grande do Sul, onde participou do resgate e atendimento a animais domésticos e silvestres atingidos pelas recentes enchentes no estado.

O Governo de Mato Grosso do Sul reforçou que este trabalho não tem nenhuma relação com a técnica da ceva, que consiste em oferecer comida para atrair animais selvagens e facilitar encontros com turistas.

“Esse trabalho é feito em regiões atingidas pelo fogo, onde os animais não têm alimento disponível. Então a gente disponibiliza e monitora. A ceva de animais silvestres é crime ambiental, e não deve ser realizada. O Gretap é o único grupo oficial, criado por decreto, do Governo do Estado que aplica essas técnicas”, conclui Falcette.

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