Por André Garcia
Com a perda de 55 milhões de hectares nos últimos 39 anos, a vegetação nativa da Amazônia abrange atualmente 81% de todo o território do bioma. Esta proporção coloca a maior floresta tropical do mundo muito próxima da margem estimada para seu ponto de não retorno, que varia entre 80% e 75% da cobertura original.
Isso significa que a degradação pode tornar os danos irreversíveis, transformando a floresta em savana. Além disso, segundo dados divulgados pelo MapBiomas nesta quarta-feira, 21/8, a área devastada na Amazônia corresponde à metade de toda vegetação nativa perdida, entre 1985 e 2023, no País.
Em termos gerais, Brasil , segundo o estudo, já acumula um saldo negativo de 33% das áreas naturais de seu território, que incluem a vegetação nativa dos biomas, superfície de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas.
Na região amazônica, a vegetação secundária, ou seja, que cresceu novamente depois de ser desmatada, corresponde a 8,1 milhões de hectares, ou 3% do bioma, um dos estabilizadores do clima no continente. Neste contexto, especialistas reforçam que extensão e rapidez da mudança da cobertura e uso da terra elevam o risco climático.
“A perda da vegetação nativa nos biomas brasileiros tende a impactar negativamente a dinâmica do clima regional e diminui o efeito protetor durante eventos climáticos extremos. Em síntese, representa aumento dos riscos climáticos”, explica o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.
Cerrado
A preocupação se estende a outros biomas. No Cerrado, vice-líder em perdas, 38 milhões de hectares de vegetação nativa foram suprimidos entre 1985 e 2023. Conforme o relatório, hoje, quase 10 milhões de hectares (10% do Cerrado) são cobertos por vegetação secundária.
Proporcionalmente em relação ao próprio tamanho, ao lado do Pampa, o Cerrado lidera entre os biomas que mais perderam área de vegetação nativa. Na região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, todos os estados têm pelo menos um município com mais de 30% de perda de vegetação nativa no bioma entre 2008 e 2023.
Avanço da agropecuária
Enquanto a cobertura dos ecossistemas diminui, a área ocupada pela agropecuária avançou: no Cerrado e na Amazônia, os mais prejudicados, as porcentagens passaram, respectivamente, de 28% para 47% e 3% para 16% nas últimas quatro décadas.
Em todo o Brasil, a área de pastagem cresceu 79%, ou 72,5 milhões de hectares a mais em relação a 1985. Já a de agricultura, saltou de 228%, acréscimo de 42,4 milhões de hectares. Em 1985, 48% dos municípios tinham o predomínio da agropecuária; enquanto em 2023, esse predomínio chegou a 60% dos municípios.
No período, a área de pastagem passou de 6% para 38% em Rondônia; de 5% para 29% no Maranhão; de 6% para 24% no Mato Grosso; e de 7% para 30% no Tocantins. Vale destacar ainda que mais da metade (60%) da perda de vegetação nativa no país está em propriedades privadas, onde a vegetação nativa já ocupa menos da metade.
“É importante lembrar que 95% dos produtores não tiveram desmatamento nos últimos 5 anos. A maioria consegue aumentar a produtividade sem abrir mais áreas, então, é preciso dar voz para esse produtor, que já entendeu que depende do clima estável para garantir sua produção”, afirmou o pesquisador do MapBiomas Marcos Rosa, em coletiva na segunda-feira 19/8.
Ranking dos estados
Dos 27 estados brasileiros, só o Rio de Janeiro teve aumento de vegetação nativa no período avaliado, passando de 30% para 32% de seu território. Os demais tiveram redução, sendo as mais expressivas em Rondônia (de 93% para 59%), Maranhão (de 88% para 61%), Mato Grosso (de 87% para 60%) e Tocantins (de 85% para 61%).
Os estados com maior proporção de vegetação nativa são Amapá (95%), Amazonas (95%) e Roraima (93%). Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são Sergipe (20%), São Paulo (22%) e Alagoas (23%).
Formação Florestal
A Formação Florestal cobre atualmente 41% do país, mas foi o tipo de cobertura nativa que mais perdeu área de 1985 até o ano passado: menos 61 milhões de hectares, uma queda de 15% no período. Proporcionalmente, a Formação Savânica teve a maior perda, com redução de 26% e cerca de 38 milhões de hectares convertidos.
“As florestas no Brasil são muito diversas com características e espécies típicas de cada região, que estão sujeitas a diferentes graus de ameaça. Esta diversidade deve ser levada em conta em políticas públicas para conservação e bioeconomia destas florestas “, pontua Eduardo Vélez, do MapBiomas.
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