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Clima deve atrasar safra e ameaça legado do agro no Centro-Oeste

Clima deve atrasar safra e ameaça legado do agro no Centro-OesteSoluções pontuais não são suficientes. Foto: Agência Gov

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A projeção do Índice Integrado de Seca (IIS) para setembro de 2024 alerta para a expansão dos municípios com condição de seca extrema, que podem chegar a 73 em Mato Grosso, 7 em Mato Grosso do Sul e 43 em Goiás. O cenário impõe aos produtores desafios muito maiores que os enfrentados por seus pais e avós, responsáveis por tornar o Brasil em uma potência agrícola.

Nesta semana, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou que o quadro de condições climáticas extremas pode estimular aumentos nos preços de alimentos e energia, estimulando a alta da inflação e, com isso, uma possível elevação de juros.

“Estamos vivendo um momento um pouco mais crítico que o da última safra”, disse à AgFeed o meteorologista Willians Bini, diretor da meteoblue Brasil, ao recordar do impacto do El Niño no processo de plantio no final do ano passado, quando as temperaturas recordes causaram seca no Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul.

Uma das razões, segundo ele, é que o clima está mais quente não apenas no Brasil, mas no planeta todo. “São cerca de 14 meses seguidos nos quais se bate recordes de temperatura mês a mês. Não é mais um cenário específico, é uma tendência”, diz, enfatizando que o mês de agosto foi o mais quente da história.

Com o fim do El Niño e o começo da formação do La Niña havia uma perspectiva de arrefecimento das temperaturas globais – o que não irá acontecer no Brasil. Por aqui, as expectativas são de menos chuvas no Centro-Sul do País, o que irá adiar o início da fase de semeadura, com potencial impacto no processo de colheita.

“Já estamos em setembro e essa situação – de temperatura muito elevada, com umidade relativa do ar muito baixa e falta de chuva – deve mudar só partir de outubro ou novembro”, afirma Alcides Torres, da Scott Consultoria.

Segundo ele, se essa situação perdurar, podemos ter redução de produtividade de maneira generalizada em culturas como café, cana-de-açúcar, milho, soja, sorgo e até de capim – importante para a pecuária.

“O clima tropical sempre foi nossa grande vantagem competitiva em relação aos concorrentes que operam no clima temperado”, dizTorres, para quem a perspectiva é de quebra de safra, com impacto nos preços.

E é justamente por conta do padrão atípico das chuvas – que deveriam começar a cair a partir de setembro – que o planejamento e manejo do cultivo se torna importante, na visão da diretora de Marketing da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf, Graciela Mognol.

Lidando com a crise

Ela cita como alternativas para driblar os desafios do clima, a escolha de cultivares certificadas, escalonamento de plantio e aplicações preventivas e com intervalos corretos de fungicidas, bem como o auxílio de ferramentas digitais, podem reduzir os riscos de perda de produtividade.

“Podemos ter secas na região Sul do Brasil, principalmente no período inicial, quando o cultivo ainda está se adaptando no solo. Já no Cerrado, especialmente em Mato Grosso, vemos a possibilidade de chuvas em excesso, principalmente no momento da colheita Entender essa complexidade climática é fundamental para que se possa extrair o máximo da lavoura e minimizar impactos”, afirma Mognol.

Mas não é só isso. Soluções pontuais que jogam a conta no bolso do produtor, como o  seguro rural , não vão resolver o problema. Governo e representantes do setor precisam se unir para enfrentar as causas do problema: o desmatamento promovido por especuladores de terra e a queima de combustíveis fósseis.

 

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