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Fogo no Cerrado ameaça segurança hídrica e econômia do País

Fogo no Cerrado ameaça segurança hídrica e econômia do PaísMais de 2.5 milhões de hectares de Cerrado foram queimados em agosto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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Por André Garcia

Embora o fogo faça parte do sistema natural do Cerrado, que tem tipos de vegetação resistentes às queimadas, este regime tem sido alterado pelas secas e temperaturas extremas, o que aumenta risco de propagação dos incêndios florestais e coloca em risco a segurança hídrica, energética, alimentar e à biodiversidade de todo o País.

Na região, onde nascem 8 das 12 bacias hidrográficas que abastecem o Brasil, as chamas avançam sem controle, tendo varrido somente em agosto 2,5 milhões de hectares, segundo o MapBiomas. Situação que desencadeia impactos em cascata sobre as redes fluviais da região.

Com menos cobertura vegetal, a água chega com mais força no solo e escorre superficialmente. Conforme explicou ao Reset o diretor-executivo do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, isso diminui a capacidade de infiltração de água da chuva no solo em até 60% o que, consequentemente, reduz a recarga de águas subterrâneas.

Além disso, a supressão da vegetação pelo fogo causa a diminuição da evapotranspiração das plantas e, com isso, a quantidade de água na atmosfera que vai se transformar em chuva. Além de aumentar a temperatura e os gases no ar.

“Estamos numa rota de crise sistêmica hídrica e energética por conta da escassez de água. Os rios do Cerrado já perderam mais de 15% da sua vazão, a projeção é perder entre 30% a 40% entre os anos de 2040 e 2050”, afirmou Salmona.

O que isso tem a ver com o agronegócio

Ele também listou a dependência do Brasil do chamado berço das águas: 90% dos brasileiros consomem alguma energia que vem das águas do bioma; o Cerrado abastece de água cerca de 40% da população; 80% da área irrigada do país está na região.

“Ou seja, um cenário de diminuição ainda maior da disponibilidade hídrica é extremamente preocupante, pois impacta nosso modo de vida, produção, consumo, ocupação do uso do solo”, afirma Salmona.

Entre todos os setores da economia que poderão ser prejudicados, Yuri chama a atenção para o agropecuário. “A irrigação da agricultura consome mais de 50% da água do País, e justamente no período de seca”, pontua.

Hoje, 26 milhões de hectares do bioma são ocupados pela agricultura, sendo 75% destinados ao cultivo de soja – metade da área cultivada do grão no País está nesse bioma. Cerca de 55% da vegetação nativa restante do Cerrado se encontra em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) autodeclarado.

Caminhos

Essa demanda excessiva sobre os rios e aquíferos pode piorar com a intensificação da irrigação que compromete a recarga dos aquíferos, já que a retirada de água ocorre em uma velocidade maior do que a capacidade natural de reposição. Além disso, em algumas áreas, a estratégia pode causar a salinização dos solos, especialmente quando a drenagem não é bem planejada.

Ou seja, o caminho para controlar a crise não é a intensificação da retirada de água dos aquíferos, mas a recuperação das fontes primárias de águas, as nascentes, para garantir a manutenção das bacias hidrográficas.

Como já mostramos, a restauração de nascentes ajuda a estabilizar os fluxos hídricos, melhorar a qualidade da água e sustentar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, garantindo água para a agricultura e outros usos.

A contrapartida é a manutenção da produtividade agrícola, já que o processo ajuda a manter um fluxo regular de água, o que dá maior resiliência ao setor permitindo a continuidade da produção mesmo em períodos de escassez hídrica.

 

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