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Crise climática coloca proteção do seguro rural em jogo

Crise climática coloca proteção do seguro rural em jogoSafra 2023/24 trouxe amostra dos prejuízos causados pela seca. Foto: CNA

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Por André Garcia

Neste ano, o setor de seguro rural já lidou com inundações no Rio Grande do Sul, ondas de calor e estiagem nas lavouras de milho safrinha, geadas nas lavouras de trigo e, agora, a seca e os incêndios que avançam sobre diversos estados. Antes disso, as seguradoras já encaravam os efeitos de ciclos de La Niña e El Niños sobre as carteiras.

A situação tende a se agravar com a crise climática, apontando para a revisão de taxas e de termos e condições de produtos, que consideram o custo de capital de risco na formação do preço. Cálculo que pode se tornar impraticável para os produtores e para o governo, que subsidia parte dos prêmios por meio de subvenções.

Neste cenário, o mercado de seguro rural já dá sinais de recuo. Nesta quarta-feira, 25/9, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) anunciou a redução na projeção de crescimento para o setor para apenas 1% em 2024. Em junho, a expectativa era de um avanço de 7,9%. No fim de 2023, era de alta de 23,1%.

Ao Gigante 163, o presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Glaucio Toyama, disse que está trabalhando “de forma ativa” para evitar que em algum momento as seguradoras não aceitem mais fazer seguro para o agronegócio.

“Se continuarmos a seguir o modelo atual, teremos um programa anti-seletivo de riscos, que consumirá cada vez mais capital de risco, com taxas mais altas e maior consumo de subvenção”, disse.

O custo do seguro é uma composição de variáveis na formação do preço e a modelagem se baseia nas experiências e produtos de cada seguradora. Considerando que a maioria dos segurados é formada por pequenos e médios produtores, ou seja, produtores mais vulneráveis, o resultado de reajustes é a redução na base de propriedades protegidas.

“Se o preço do seguro for alto e não contar com programas de subvenção, como se vê nos modelos dos outros países com bom desenvolvimento de mitigadores climáticos, podemos ter uma redução na base de produtores protegidos ou uma revisão nas ofertas de coberturas.”

Adaptação

Por enquanto, os eventos extremos foram incorporados à análise da formação dos preços do mercado e a aposta das seguradoras e dos produtores é a intervenção do governo. Mas a capacidade do poder público de continuar a financiar a subvenção pode ser limitada caso as perdas climáticas continuem a se expandir.

Ou seja, sem uma postura mais firme do agronegócio frente à urgência de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, uma das principais estratégias para garantir a resiliência do setor e minimizar o impacto de eventos extremos sobre a produção agrícola, a economia do País está ameaçada.

Na prática, isso significa não só o comprometimento com a recuperação de áreas degradadas, com a restauração de nascentes e com o cuidado do solo, mas também a cobrança do próprio setor por medidas mais efetivas de combate ao desmatamento e aos incêndios florestais, por exemplo.

Para Toyama, a combinação de políticas públicas adequadas, somado à convergência de interesses do setor produtivo com o mercado segurador, deverá criar um ambiente sustentável para todos.

“O mercado brasileiro ainda está em franco desenvolvimento e ao falar de preços de seguros devemos ter em mente a política pública de mitigação de riscos, com suporte da subvenção ao prêmio de seguro que deveria facilitar o acesso dos produtores rurais a produtos de seguros”, pontuou.

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