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Seca aumenta busca por irrigação, mas estratégia pode piorar escassez

Seca aumenta busca por irrigação, mas estratégia pode piorar escassezDemanda por água pode sueprar capacidade dos aquíferos. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Para ajudar o agronegócio a enfrentar os efeitos da seca, intensificada pelas mudanças climáticas, o atual Plano Safra já destinou R$ 2,61 bilhões ao seu programa de agricultura irrigada (ProIrriga), valor 10% maior que o registrado em 2023. É fato que, sem água, não há agro. Mas intensificar a exploração de aquíferos em um País onde a escassez avança pode trazer o resultado contrário e piorar os resultados do setor.

É o que já se observa na Índia, atualmente considerada como “região de conflito” por apresentar uma demanda de água superior à capacidade dos lençóis freáticos. Lá, décadas de escassez de água arruinaram a produção agrícola e o sustento das famílias, colocando em jogo a produção de soja, por exemplo.

De acordo com o Relatório sobre a Produção Agrícola Mundial do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a safra de soja indiana no período 2023/24 foi cerca de 11% menor em relação ao ano anterior devido às variações nas chuvas. O País, que já enfrenta a escassez há décadas, chegou ao ápice da seca em agosto, com os piores índices em 48 anos.

Neste ano, um estudo da Universidade da Califórnia estimou que a irrigação seja responsável por 70% das retiradas globais de água subterrânea. Aquíferos com níveis de água subterrânea em rápido aprofundamento são 17% mais comuns onde mais de um quinto da superfície é cultivada, mas praticamente ausentes (0,8%) onde a agricultura ocupa menos de 1% da superfície.

“Além do declínio rápido nos níveis de água subterrânea, também observamos que o declínio acelerado dos níveis de água subterrânea é mais comum em climas mais secos, especialmente em terras cultivadas, provavelmente refletindo uma maior dependência da água subterrânea para irrigação”, diz trecho da pesquisa.

O estudo analisou 170 mil poços em mais de 40 países e mostra que muitas partes do mundo estão registrando um rápido esgotamento das reservas subterrâneas. Os autores descobriram que os níveis de água diminuíram 71% entre 2000 e 2022, 71%, com redução de mais de 0,1 m por ano em 36% dos locais analisados.

“As águas subterrâneas, contidas em fissuras e buracos em estruturas rochosas permeáveis ​​conhecidos como aquíferos, são uma tábua de salvação para as pessoas, especialmente em partes do mundo onde as chuvas e as águas superficiais são escassas, como o noroeste da Índia e o sudoeste dos Estados Unidos”, reforçam os pesquisadores.

Impacto nos lençóis freáticos

Como já mostramos, o Brasil tem seguido o caminho da escassez. Neste ano, o País registrou a seca mais duradoura e intensa da história recente. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) publicada na revista Nature aponta que o Cerrado enfrenta a estiagem mais severa dos últimos 700 anos.

O impacto da escassez de água também se mede nos lençóis freáticos e na seca das nascentes. Com o agravamento da seca em diversas regiões do País, existem as chamadas áreas de conflito, onde há mais destinações de uso da água (urbano e rural) do que a capacidade das bacias hidrográficas.

Ou seja, ao intensificar a irrigação, o agronegócio age como um paciente com câncer que opta por remédios para tirar a dor ao invés de tratar o tumor, já que financiar esse tipo de infraestrutura pode ser uma solução econômica de curto prazo. Sem contar que, sem água, os investimentos em equipamentos de irrigação não farão diferença.

Para curar a doença de verdade e assegurar um abastecimento constante de água natural aos produtores, é preciso controlar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) e recuperar o fluxo dos rios voadores que vêm da Amazônia. Assim, é possível combater a alta das temperaturas que reduz as chuvas e prejudicam a distribuição de água nas regiões agrícolas, comprometendo a produtividade e aumentando os custos de irrigação.

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