Muita gente finge ser defensor dos produtores agropecuários – incluindo as multinacionais que ditam os preços que regulam nosso mercado, desde o fornecimento dos insumos até a venda para as traders, no caso das commodities. Por trás de bonitas propagandas, porém, esconde-se um trabalho por vezes sujo de defesa do próprio lucro – mesmo quando ele coloca em risco a vida das pessoas do campo.
Nos Estados Unidos, investigações sobre a toxicidade do glifosato mostraram que a empresa não só sabia como fez de tudo para esconder os riscos do herbicida – ao ponto de aliciar supostos cientistas para dar um verniz de verdade a mentiras deslavadas. E isso também acontece no Brasil.
Financiar pessoas que se passam por cientistas respeitados é uma tática usada em outras frentes para defender o lucro dessas empresas a qualquer custo, a despeito dos efeitos devastadores sobre quem trabalha no campo.
Esse clima extremo que desafia as atuais e futuras gerações de produtores, por exemplo, tem sido objeto de controvérsias muitas vezes patrocinadas por multinacionais que não se importam com as consequências. Afinal, se não tiver chuva no Brasil, eles irão comprar em outros lugares – inclusive lugares que antes eram inóspitos, como a Rússia, mas onde o aquecimento global está derretendo o gelo e revelando terras férteis.
Isso já está acontecendo e poderá ser um risco para nossas exportações, já que a Rússia fica muito mais perto do nosso principal importador, a China, e pode oferecer ao País, seu aliado, o mesmo produto com custos muito menores de transporte.
Uma reportagem da Bloomberg mostra como os trópicos cada vez mais quentes e de clima turbulento devem beneficiar a agricultura do Hemisfério Norte do planeta em detrimento da do Sul.
Para as multinacionais, o mundo é um grande cardápio no qual elas escolhem o prato que mais lhes interessa. Para os produtores, que dão duro de sol a sol, a situação é bem diferente. Já passou da hora de deixarmos esses lobos se passarem por cordeiros que berram em defesa do rebanho.