HomeEconomia

Desmate causou prejuízo de R$ 5,8 bi em soja e milho na Amazônia

Desmate causou prejuízo de R$ 5,8 bi em soja e milho na AmazôniaO principal efeito do desmate é a diminuição na estação chuvosa.

Agropecuária avança e já ocupa metade do Cerrado
Brasil reduz perda florestal em 36%, mas biomas ainda correm risco
Amazônia e Cerrado concentram 84% das queimadas no Brasil
A produção de milho e soja na Amazônia teve perdas anuais de US$ 73 milhões (R$ 412 milhões) decorrentes do desequilíbrio climático provocado pelo desmatamento. Segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgado pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, 17/10,  o prejuízo foi de US$ 1,03 bilhão (cerca de R$ 5,8 bilhões) entre 2006 e 2019.
Os cientistas analisaram o impacto da destruição da floresta no clima da região e descobriram que, desde 1980, há um atraso na chegada da temporada de chuvas e redução no volume anual, além de aumento nas temperaturas. Como consequência, a soja é plantada mais tarde e a safrinha de milho, cultivada na mesma área após a colheita da soja, não tem tempo suficiente para se desenvolver plenamente.

De acordo com  Argemiro Teixeira Leite Filho, pesquisador no Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG e um dos autores do estudo, hoje 80% da produção de milho do Brasil vem do sistema de dupla safra. Ele ressalta que, em termos de produção agrícola, o principal efeito do desmate é a diminuição na estação chuvosa.

“A janela de plantio para o produtor tem reduzido em até 30 dias nas áreas mais desmatadas. Mas, para a Amazônia como um todo, esse atraso é de cerca de duas semanas, o que já é um valor suficiente para afetar a produção da dupla safra”, explica.

Em agosto, a reportagem visitou quatro fazendas em Paragominas, no nordeste do Pará. Em todos os casos, os proprietários dizem não ver relação entre o desmatamento do bioma e variações climáticas. Mesmo assim, relatam perdas na produção devido ao clima —seja por seca ou pelo excesso de chuvas concentradas.

O agrônomo Gilberto Maraschin veio do Paraná há 20 anos e tem duas fazendas na região. Ele diz que, no último ano, em que houve El Niño, a chuva atrasou um pouco e, quando veio, foi muito volumosa e acumulada.

“Foi um dos anos mais problemáticos na colheita para a gente. Historicamente, em ano de El Niño nós produzimos mais, porque chove menos. Só que este ano a gente produziu menos”, explica. A produtividade caiu de 55 para 45 sacas de soja por hectare.

Na safrinha, em que cultiva milho, sorgo e gergelim, o produtor opta por plantar em apenas 60% dos 1.700 hectares disponíveis para agricultura na propriedade, já que a temporada de chuva acaba rápido.

“Não adianta fazer mais porque perde”, afirma.

Segundo o estudo da UFMG, de 2006 a 2019, as alterações climáticas relacionadas ao desmate geraram perda econômica estimada em US$ 761,3 milhões (R$ 4,3 bilhões) para a produção de soja e US$ 273,3 milhões (R$ 1,5 bilhões) para o milho na Amazônia. Deduzindo os custos de produção, o desmatamento reduz a renda líquida por hectare em 10% para a cultura da soja e 20% para o milho.

Tecnologia tem limite

O pecuarista Vinicius Scaramussa, natural de Paragominas, aposta na tecnologia e no melhoramento do pasto para driblar a imprevisibilidade. “Todo ano aumentamos o investimento buscando aumento de produtividade”, conta.

“Tentamos nos adaptar ao clima daquele ano”, afirma ele, lembrando discrepâncias nas chuvas recentes. Em 2015, cita, foram 1.200 milímetros, enquanto, em 2023, 2.200.

Leite Filho destaca que muitos produtores ainda não reconhecem a dimensão do impacto da alteração nas chuvas devido a avanços tecnológicos, como variedades de sementes e sistemas de irrigação. O pesquisador afirma que já há estudos que apontam, por exemplo, que a capacidade de melhoramento da soja está próxima de atingir o limite. “Então, depositar a confiança somente no avanço tecnológico para a continuidade da produção é muito arriscado”, explica.

Para ele, o futuro aponta “uma descontinuidade da atividade agrícola do jeito que é feita hoje na Amazônia” caso o desmatamento não seja zerado.

“Nós estamos vislumbrando o que a gente chama de agrossuicídio. Porque é como se a atividade estivesse dando um tiro no seu próprio pé, já que ela depende do clima para produzir”, diz.