Por André Garcia
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio cresceram 40,6% no segundo trimestre de 2024, na comparação com os primeiros três meses do ano. Segundo levantamento do Serasa Experian, em todo o Brasil foram contabilizados 121 pedidos no período, sendo os estados recordistas: Minas Gerais (31), Mato Grosso (28) e Goiás (15).
Como temos mostrado, a crise climática vem aumentando a demanda por recuperações judiciais no agronegócio. Em 2023, os pedidos de recuperação judicial feitos por produtores rurais tiveram alta de 300%, refletindo as dificuldades financeiras causadas pelo alto custo de produção e de perdas nas lavouras afetadas por eventos extremos.
O head de agronegócio da companhia, Marcelo Pimenta, destaca que o cenário é o reflexo de uma combinação de eventos diversos que causaram perdas e desafios significativos no campo. Ele também ressalta que o agronegócio é cíclico, passando por momentos de expansão e retração.
“O aumento dos juros, o preço ameno das commodities e os custos mais altos para a produção impactaram de forma negativa aqueles que já estavam comprometidos financeiramente. Ou seja, para algumas commodities e municípios específicos têm sido complexo equilibrar as contas, mas não é algo generalizado no setor”, disse.
De acordo com o Serasa, os segmentos do agro que mais impulsionaram os pedidos de recuperação judicial foram os de cultivo de soja, criação de bovinos e plantio de cerais, com 53, 25 e 23 pedidos, respectivamente. Na sequência, vem o cultivo de café, com 7 solicitações e a horticultura, com 3.
Pedidos crescem também entre empresas relacionadas ao agro
Outro recorte do estudo aponta que, além dos produtores rurais, as empresas que atuam com atividades diretamente ligadas ao agronegócio também demandaram por recuperação judicial. Durante o 2º trimestre de 2024, foram registrados 94 pedidos. Um aumento de 22% comparado aos três primeiros meses do ano.
Na análise por estados, as empresas de Goiás e São Paulo foram as que tiveram o maior número de solicitações, ambas com 16. Considerando os setores demandantes, constatou-se que as agroindústrias de transformação primária foram as que mais recorreram ao recurso no segundo trimestre deste ano, com 34 solicitações.
Na sequência estão os serviços de apoio à agropecuária (16), indústria de processamento de agroderivados (13), comércio atacadista de produtos agro primários (12) e comércio atacadista de produtos agro processados (9).
Inadimplência
Um estudo bancado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que simulou os efeitos futuros da mudança climática sobre as finanças do agronegócio no Brasil, projeta que a instabilidade climática resultará em aumento da inadimplência no agronegócio ao longo das próximas décadas.
A melhor forma de os produtores conseguirem mais resiliência, dizem os pesquisadores, inclui uma reforma dos serviços financeiros e o fortalecimento de instituições de resseguros. Outro ponto crucial é se antecipar a problemas de acesso à água, um insumo vital para a agropecuária que deve sofrer grande impacto com a mudança climática.
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