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Uso excessivo de água limita futuro da irrigação no Matopiba

Uso excessivo de água limita futuro da irrigação no MatopibaMonocultura na Bahia. Foto: Wikimedia Commons

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Considerada uma das fronteiras agrícolas que mais crescem no Brasil e a área com maior taxa de emissão de gases de efeito estufa no Cerrado, a região conhecida como Matopiba corre o risco de enfrentar falta de água já nos próximos anos. A demanda crescente por água para irrigar as lavouras, aliada às mudanças climáticas, está esgotando os recursos hídricos da região.

Estima-se que entre 30% e 40% da necessidade de água para a agricultura não seja suprida entre 2025 e 2040, colocando em risco a produção e a economia local. A superexploração do aquífero Urucuia e a redução do fluxo do rio Grande, principal afluente do São Francisco, comprometem não apenas o agronegócio, mas também o abastecimento de cidades e comunidades tradicionais, além de afetar todo o ecossistema da bacia.

A conclusão é de um estudo liderado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que analisou a sustentabilidade de longo prazo da expansão agrícola em meio à crescente escassez de água na região.

O trabalho, idealizado pela cientista do Inpe Ana Paula Aguiar  realizado em parceria com o Centro de Resiliência de Estocolmo (Suécia), aponta que deve haver um aumento de até 40% de energia para irrigação, pressionando ainda mais o sistema.

Formado pelas siglas de quatro Estados – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, o Matopiba está inserido predominantemente no Cerrado (91% da área ou 665 mil km), tendo apenas 7,3% na Amazônia e 1,7% na Caatinga. Em sua parte sudeste, é abastecido pela bacia do rio Grande, que cobre cerca de 76 mil km.

O futuro da região

Para fazer a análise, os pesquisadores usaram um modelo de dinâmica de sistemas, uma ferramenta que nos ajuda a montar esse quebra-cabeça, mostrando como todas as peças se encaixam e interagem entre si.

No caso do Matopiba, os pesquisadores queriam para entender como a agricultura, o consumo de água, as mudanças climáticas e outros fatores estão interligados e influenciam o futuro da região. Ao simular diferentes cenários, eles podem prever os possíveis impactos de nossas ações e tomar decisões mais conscientes para garantir a sustentabilidade da região.

Segundo a Agência Fapesp,  o projeto buscou propor estratégias para viabilizar a transição para um futuro sustentável nos biomas Cerrado e Caatinga por meio de uma abordagem participativa, integrando métodos qualitativos e quantitativos.

“A ideia do estudo nasceu de uma das oficinas do projeto Nexus, realizada no município de Barreiras. Havia uma preocupação com a sustentabilidade do sistema de irrigação. Desenvolvemos um modelo de dinâmica de sistemas para a região, mas ele pode ser aplicado a outras áreas adaptando algumas variáveis de acordo com a necessidade”, explica a engenheira agrícola Minella Alves Martins, primeira autora do artigo e orientanda de von Randow no Inpe com o apoio da FAPESP.

Durante a oficina, os principais desafios relatados na bacia do rio Grande estavam relacionados à disponibilidade de água – tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo – e aos conflitos socioambientais motivados por seu uso e pela posse irregular da terra. Mais de 90% das retiradas de água na bacia são destinadas à irrigação, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Por outro lado, a seca severa que vem atingindo o País  e os incêndios que bateram recorde no Cerrado, só pioram a situação. Foram 68.868 entre janeiro e 25 de setembro, superando todo o ano de 2023. É o maior desde 2015.

A destruição da vegetação nativa pelo fogo e o desmatamento para outros usos levam a uma redução da evapotranspiração das plantas, diminuindo a quantidade de chuva. Há ainda o fato de a água, sem a cobertura vegetal, chegar com mais força ao solo, escorrendo superficialmente e deixando de formar os canais subterrâneos.

Projeções

O modelo de dinâmica de sistemas usado pelos pesquisadores para a região mostrou que as vazões superficiais e subterrâneas tendem a diminuir até 2040. Por isso, os pesquisadores apontam a possibilidade de estagnação da expansão da agricultura irrigada na região, levantando preocupações sobre a sustentabilidade de longo prazo do setor na bacia do rio Grande.

O grupo recomenda também que seja aprimorada a fiscalização das mudanças de uso e cobertura do solo para que áreas de recarga do aquífero não sejam comprometidas, além de incentivar estratégias mais eficientes e racionais da utilização de água na agricultura. Para estudos futuros, os cientistas sugerem a exploração de outros caminhos para adaptação às condições atuais, como a possibilidade de conectar o subsistema elétrico local à rede nacional e a criação de canais adicionais para garantir o abastecimento.