Com a redução da cobertura vegetal nativa do Cerrado, quebras de safra estão se tornando constantes e podem piorar. “É agrossuicídio”, adverte o professor da UFMG Argemiro Teixeira Leite-Filho, um dos autores do estudo, publicado na Nature Sustainability, que revela que se os níveis de desmatamento seguirem elevados na região, o agronegócio ali se tornará inviável economicamente.
Desde a década de 1980 houve, em média, um atraso de 36 dias no início da estação chuvosa agrícola; uma redução de 36,7% no total de chuvas durante o período; e um aumento de 1,5°C na temperatura do bioma, de acordo com os pesquisadores, que analisaram os efeitos das mudanças climáticas induzidas pelo desmatamento na prática de cultivo duplo de soja e milho no Cerrado. Na pesquisas, eles ecluíram todas as causas que não fossem a destruição da vegetação. Ou seja, o impacto de fenômenos como El Niño e La Niña foi desconsiderado.
Dos 8,1 milhões de hectares de cultivo duplo de soja e milho no bioma, 99% enfrentaram atrasos na estação chuvosa agrícola e 61% sofreram redução nas chuvas. Essas mudanças contribuíram para falhas nas colheitas desses grãos, falhas que se tornam mais frequentes e severas. Assim, os cientistas apontam que para sustentar a produtividade agrícola no Cerrado é crucial conservar e restaurar sua vegetação nativa.
Nenhuma outra savana do mundo tem sido tão destruída quanto o Cerrado. Nos últimos 20 anos, o bioma teve sua cobertura vegetal nativa reduzida de 127 milhões de hectares para 95 milhões de hectares, ao mesmo tempo em que a região viu as áreas agrícolas dobrarem – de 38 milhões de hectares para 77 milhões de hectares.
Somente entre 2022 e 2023 o Cerrado perdeu 6 milhões de hectares de vegetação nativa, uma área equivalente ao estado da Paraíba. Além disso, foi o bioma brasileiro onde a soja mais avançou no ano passado, com 19,3 milhões de hectares, ou quase um estado do Paraná.