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Algodão agroflorestal do MT mostra potência da moda sustentável

Algodão agroflorestal do MT mostra potência da moda sustentávelProjeto não utiliza agrotóxicos ou insumos sintéticos. Foto: Reprodução/UFMT

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Por André Garcia

A produção de algodão em sistemas agroflorestais (SAFs) em Mato Grosso está ajudando a mostrar ao mundo que é possível aliar moda e responsabilidade socioambiental. Exemplo disso é o projeto “Florestas de Algodão”, que promove o cultivo integrado junto a agricultores familiares de Santo Antônio do Leverger, modelo destacado recentemente na Regenerative Agriculture Summit Europe, em Amsterdã.

Desenvolvida pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a iniciativa é fruto da parceria entre as empresas FarFarm e Renner, que em 2019 uniram esforços pela sustentabilidade da cadeia. Na região, a produção de algodão é combinada com outras culturas para subsistência e comercialização e já resultou no aumento da biodiversidade, melhoria do solo e na geração de renda para as comunidades locais.

Os benefícios são inúmeros e foram destaque também na publicação internacional Forbes, que apontou que o trabalho vem garantindo que as árvores no SAFs forneçam alimentos, combustível e renda adicionais aos agricultores, além de contribuir com a saúde do solo e biodiversidade. De quebra, o sistema garante a regulação dos estoques de carbono e consequentemente contribuem com a mitigação da crise climática.

“O objetivo é desenvolver uma cadeia de suprimentos escalável e de longo prazo, que regenere o solo, previna o desmatamento e melhore a saúde e o bem-estar das pessoas”, disse a estrategista de sustentabilidade da FarFarm Mariana Gatti, durante a Regenerative Agriculture Summit Europe, em Amsterdã.

Isso significa que o “Florestas de Algodão” também não utiliza agrotóxicos ou insumos sintéticos.  Para garantir a adoção deste e de outros métodos próprios dos sistemas agroflorestais, os agricultores são capacitados pelo Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia (CVT AGROECO) da UFMT, por meio da atuação de professores e alunos de graduação e pós-graduação.

“Essa é uma solução para os problemas causados pelo cultivo do algodão com métodos convencionais”, explica o professor Henderson Nobre, coordenador do projeto e do CVT AGROECO. “E é especialmente importante por essa ser uma das commodities que mais utilizam agrotóxicos”, completou.

Por outro lado, o cultivo convencional de algodão leva ao aumento de irregularidades climáticas, à contaminação da água e ao empobrecimento da terra devido ao uso intensivo de pesticidas, à perda de renda e ao êxodo rural. Neste contexto, Mariana Gatti lembrou que o Mato Grosso é o segundo maior produtor de algodão do Brasil por métodos convencionais.

“Isso é um dos fatores que contribuem para que ele tenha hoje a maior taxa de desmatamento do País”, lembrou Gatti. “Essa abordagem (SAF) aumenta a resiliência econômica de comunidades vulneráveis. Ao fornecer educação e assistência técnica, também estamos ampliando a conscientização sobre agricultura sustentável, que pode influenciar outras cadeias”, destacou ela.

Produção em escala e redução de custos

Gatti destacou que, ao se engajar em projetos com varejistas como a Renner, a FarFarm ajuda a enfrentar os desafios das cadeias agrícolas que abastecem as indústrias de alimentos, têxteis e cosméticos. De acordo com ela, ao envolver todas as partes interessadas, incluindo instituições de pesquisa acadêmica, é possível acelerar a adoção em escala, impacto e reduzir custos.

“À medida que essas cadeias crescem juntas, todas enfrentam os mesmos problemas socioambientais, que podem ser resolvidos com maior transparência de dados e uma abordagem mais padronizada”, avaliou Mariana. “Vemos uma enorme oportunidade de fomentar inovação para regeneração por meio de sistemas agroflorestais interindustriais”, pontuou.

Não à toa, a Renner é a líder mundial entre os varejistas de moda no Índice de Sustentabilidade Dow Jones. Posto que foi alcançado graças a uma política de aquisição que garante que todos os seus produtos de algodão são fabricados com algodão certificado. Além disso, quase todos os fornecedores da companhia possuem certificação socioambiental.

“A construção da cadeia produtiva do algodão agroecológico agroflorestal atende a uma grande demanda da indústria têxtil. Nessa parceria, a Renner garante a compra de toda a produção e, assim, conseguimos promover a inclusão produtiva de comunidades em situação de vulnerabilidade social, como comumente é o caso de assentamentos da reforma agrária”, conclui Henderson Nobre.

 

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