Por André Garcia
Sem a adoção de medidas urgentes para a Amazônia, o desmatamento no bioma pode avançar para mais 6.531 km² em 2025, uma área maior que a de Brasília. A projeção, divulgada nesta semana pelo Imazon, é da plataforma de inteligência artificial PrevisIA e representa alta de 4% em relação aos registros de 2024.
Para o próximo ano, 35% da área sob ameaça apresenta risco muito alto, alto ou moderado de devastação, o que significa que estas seriam prioritárias para as ações de prevenção. Os outros 4.262 km² (65%) estão sob risco baixo ou muito baixo de desmatamento.
“Se atuarmos para proteger as áreas indicadas pela PrevisIA sob risco muito alto, alto ou moderado de desmatamento, poderemos reduzir ainda mais a derrubada da Amazônia em 2025 e avançar em direção à meta de desmatamento zero em 2030”, explica o pesquisador do Imazon e coordenador da PrevisIA, Carlos Souza Jr.
Ele reforça ainda que a conservação da floresta é essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, que este ano afetaram seriamente o País, causando, por exemplo, as cheias no Rio Grande do Sul e a seca severa na Amazônia.
“Além de poder ajudar na estratégia nacional de combate ao desmatamento, a PrevisIA também pode auxiliar os governos estaduais e municipais a protegerem suas florestas, já que oferece um mapa das áreas de risco inclusive com informações de estradas e de Cadastros Ambientais Rurais (CARs) sobrepostos”, completa Carlos.
PA, AM e MT possuem as maiores áreas ameaçadas
Entre os estados, Pará (35%), Amazonas (20%) e Mato Grosso (17%) possuem as maiores áreas sob risco de desmatamento. Apenas os três concentram 72% do território ameaçado. As estimativas consideram o “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte, como os dados oficiais do governo federal.
Assim, em relação à devastação registrada pelo Prodes em 2024 a PrevisIA apontou aumento nas áreas sob risco em cinco estados para o próximo ano: Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá e Tocantins. Nos outros três, Pará, Mato Grosso e Roraima, as projeções para 2025 são menores do que as desmatadas neste ano.
Previsão conservadora
Como em 2024 houve um aumento significativo da derrubada e das queimadas a partir de agosto, um mês após o fechamento do calendário do Prodes, os pesquisadores alertam que a previsão da plataforma pode ser considerada conservadora, uma vez que esses dados não foram considerados no modelo de risco para 2025.
“De agosto a outubro de 2024, meses que integram o calendário de 2025 do Prodes, já perdemos 1.628 km² de florestas, 25% da previsão. Isso significa que as ações de prevenção precisarão ser intensificadas principalmente a partir de maio, quando as chuvas na Amazônia deverão reduzir, o que facilita o desmatamento”, explica Carlos.
Tecnologia a favor da floresta
A PrevisIA tem indicado as áreas ameaçadas na região desde 2021 com uma assertividade média de 73% nesses últimos quatro anos. Sua metodologia analisa variáveis como a presença de estradas legais e ilegais, o desmatamento já ocorrido, topografia, a infraestrutura urbana e informações socioeconômicas, dentre outras
A ideia é enviar aos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais as informações das áreas sob risco que possuem Cadastro Ambiental Rural (CAR), para que esses órgãos tenham maior rigor nos procedimentos de licenciamento ambiental, nas operações de fiscalização e na própria análise desses CARs.
Atualmente, a plataforma é usada pelos ministérios públicos de quatro estados da Amazônia Legal para basear estratégias de proteção da floresta: Pará, Amazonas, Mato Grosso e Acre. O Ministério Público do Pará, por exemplo, pretende liderar uma ação de conscientização para a prevenção do desmatamento a partir dos dados da PrevisIA.
“Além disso, as informações também serão enviadas aos detentores desses CARs, para que adotem as medidas necessárias para evitar o desmatamento e, consequentemente, os processos de embargo e de responsabilização”, conclui o pesquisador do Imazon Paulo Amaral, que lidera as ações da PrevisIA juntos aos ministérios públicos.
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